2012/01/13

1992. Entrei para a universidade e iniciou a televisão independente em Portugal. Não havia Windows nem tv cabo. Não havia internet, nem tudo o que ela nos trouxe. Foi enviada a primeira sms e praticamente ninguém tinha telemóvel.
Eu era um garoto de 17 anos, puto, muito puto. Não fazia a mínima ideia se era gay nem o que isso seria. Não havia chat's ou gaydar's e eu não descortinava a existência de discotecas ou bares gays (nem teria tido motivo ou coragem de ir à descoberta).
Passaram 20 anos. Vivi em 6 cidades diferentes. Casei. Fui pai. Separei-me. Hoje tenho namorado (e até já posso casar de novo).
Às vezes questiono-me sobre o que teria vivido nestas duas décadas se me tivesse descoberto mais cedo. E certamente teria vivido muito, num outro lugar do planeta, e hoje seria uma pessoa muito diferente. 
Mas não me arrependo de nada porque, no meio de toda esta epopeia, fui pai.
Admiro cada vez mais aqueles que há 20, 30 ou 40 anos tiveram a coragem de aceitar a sua condição e de lutar para que eu hoje possa ser o que sou.
Incomoda-me, deveras, pensar que existe muita gente mais nova que, perante todos os meio que têm ao seu dispor, insiste em contrariar a sua natureza...
O tempo que passa, ao som de Twenty years (Placebo).

36 comentários:

  1. Bravo!
    Dos melhores posts que já me foi dado ler no teu blog.
    E adorei principalmente o último parágrafo, pois eu deixei de a contrariar, (a minha natureza, claro), em tempos muito difíceis...

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  2. @pinguim
    Obrigado pelas palavras de hoje e de domingo passado. Admiro-te por esse percurso que fizeste.
    abc.

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  3. Boa noite.

    Realmente você sabe lidar com as palavras... e nos conduz junto com elas... muito bom!

    Vou falar uma coisa, nem sei se tem a ver com o post... pra mim a sexualidade é apenas uma parte da nossa história. Acho que somos tão mais que isso! Eu sinto que você pode entender o que eu digo, né...

    Abraços

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  4. Um belíssimo texto com certeza e que permite uma série de outras relações e pensamentos...

    Para além da ideia de que cada um fez o melhor que podia naquele momento, no final, eu tenho para mim que cada um de nós tem seu tempo.

    Mais cedo, mais tarde, acredito que o importante é não se furtar a tentar... e se permitir viver... Talvez tenha sido que permitiu a você juntar dois mundos que muitas vezes parecem tão distantes, ter um filho (o que imagino seja algo mágico) e viver um amor...

    De certa forma, eu acredito que as facilidade de hoje acabam por favorecer que as pessoas se acomodem. Foi justamente a dificuldade e adversidades que deram forças e a noção de valor da importância de lutar pelo o que desejavam...

    Um grande abraço... ;-)

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  5. assim cada um constroe a sua identidade plena de SER ...

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  6. Gostei muito do teu texto, eu "sai do armário" para mim em 1993(um ano depois)...

    E, tanta coisa mudou nestes últimos 20 anos... Ainda bem :)

    Abraço

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  7. mas acredito que cada individuo tem o seu tempo, alguns conseguem se assumir mais cedo outros precisam de 10, 20 ou até 30 anos para conseguirem entender a sua própria situação como homossexual

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  8. @Cesinha
    Entendo. A sexualidade é o que menos importa naquilo que escrevi.

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  9. @Latinha
    São de facto dois mundos que parecem muito distantes e que são difíceis de conjugar. Mas, nesse campo, penso que o pior ainda está para vir...

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  10. @Paulo Roberto Figueiredo Braccini . Bratz
    Sim, por caminhos mais ou menos lineares, acabamos por nos construir. Foi isso que aconteceu.

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  11. @Francisco
    Cada um no seu tempo... Mas é um facto, muita coisa mudou desde então.

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  12. @Frederico
    cada individuo tem o seu tempo, mas as circunstâncias ajudam e hoje ninguém tem desculpa para comprometer parte da sua vida.

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  13. Parabéns pela experiência dessa vida que, acima de tudo, faz-me roer de inveja, só pelo facto de seres pai e teres vivido em tantas cidades diferentes!

    Eu também tenho tido uma vida bastante complexa, e em nada estou arrependido dela! Cada vez mais acredito que as mudanças podem acontecer a qualquer momento... A melhor foi no verão de 2011 e ainda estou a viver uma espécie de sonho... Aos poucos no meu blog vais entender.

    Um abraço e força para essa vida fabulosa que tens! ;)

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  14. Acho que o principal problema hoje em dia não seja se aceitar e sim ter coragem de assumir para os outros...

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  15. Hoje em dia ha muito mais informacao e portas abertas. Mas sempre vai existir o medo de ser "diferente" e nao aceitacao. Mas e por isso que nossa geracao esta aqui, para dizer que esta tudo bem, e vai ficar ainda melhor. Nao e opcao sexual e opcao de ser feliz.

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  16. Tudo nas nossas vidas tem uma razão de ser e, se calhar, se te tivesses assumido logo não tinhas sido pai que é algo, calculo pois não o sou, maravilhoso.

    Eu quando saí do armário foi com estardalhaço, tinha 16 anos e assumi-me logo perante a família e amigos. Para alguns foi mais difícil aceitar (pai, avós), para outros nem por isso (mãe, amigos). Não sei se foi coragem, simplesmente sou assim, era incapaz de viver às 'escondidas'.
    Uma das coisas de que me orgulho é a relação que temos com os nossos sobrinhos, ele tem 17, ela 20, ambos heteros e são tudo menos complexados em relação a nós. Convidam-nos para as festas deles, apresentam-nos aos amigos como os tios favoritos etc.

    E ainda bem que o mundo mudou, para melhor (nestes aspectos, claro)

    Abraço.

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  17. Pois é, histórias como a sua pra servir de exemplo é que não faltam... Bacanérrimo!

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  18. Gostei muito deste teu post :)

    Ainda assim sabes que eu ainda ando a contrariar, mas ... vamos ver!

    Mas contigo já aprendi muitoo, muito mesmo! Obrigado my friend!



    Abraço C.

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  19. Serei o único a discordar do teu post?
    Apesar das mentalidades terem evoluido, bem como os dispositivos que apoiam esta condição sexual, penso que ainda permanecemos num país bastante retrógrada e fechado, o que dificulta a situação.
    Por outro lado, o caminho da aceitação não é assim tão fácil como parece (o teu percurso de vida assim o demonstra, se me permites).
    Um forte abraço

    Sapo

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  20. Não me lembro muito do ano de 92, o anterior e o posterior foram muito importantes para mim. Em vinte anos descobri muitas coisas, mas levei quase vinte a me descobrir verdadeiramente.

    E pronto, este foi o meu comentário mais intimista dos últimos 20 anos... outro talvez daqui a outros 20.

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  21. Realmente o século XX foi revolucionário em tudo, e essa foi uma das grandes batalhas.
    Não podemos deixar de admirar todos aqueles que lutaram por nós, e me permitiram reconhecer-me na hora certa, ainda antes de cometer qualquer erro.
    Quanto a ti, o que interessa é que és feliz agora.
    Beijo *

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  22. @O-Riordan
    também não me arrependo da vida que tive e tenho.
    Espero que consigas todas as mudanças que precisas e mereces :-)

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  23. @Ricardo
    Aceitar o que somos é, para mim, o mais importante. Continuo a não achar importante assumir-me para os os outros, salvo duas ou 3 pessoas deveras importantes.

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  24. @MrSyl
    Não preocupa a aceitação dos outros. Só sabe quem eu quero que saiba e com o tempo vai sendo cada vez menor a preocupação com a aceitação de terceiros.
    Mas concordo, estamos cá para mudar isto :)

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  25. @Arrakis
    Imagino que tenha sido um grande estardalhaço :)
    Eu não vivo arrependido de nada, porque ser pai é a melhor coisa que me aconteceu.
    Mas o mundo está a mudar, de facto, e a olhos vistos.

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  26. @HOMOTOON
    Não sei se a minha histórias é um exemplo. É a minha :p

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  27. @C
    Pois, és um exemplo de quem insiste em contrariar a sua natureza...

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  28. @Sapo
    Mudou muita coisa nos últimos 20 anos e no fundo foi isso que aqui se disse.
    E claro que o meu percurso foi difícil, mas também porque eu o dificultei e tens aqui o exemplo escrito de muitos que, sendo mais velhos que eu, fizeram outro caminho bem diferente.
    Claro que ainda há muita coisa para mudar mas, se calhar por tudo o que já vivi, não me preocupa minimamente a aceitação.

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  29. @Ribatejano
    E nos próximos 20 descobrirás, certamente, muitas outras coisas :)

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  30. @Kim III
    Prefiro não olhar para nenhuma decisão da minha vida como um erro.
    Mas agora sinto-me no caminho da felicidade :)

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  31. Poderei ser... mas acho que cada vez mais sei isso!


    abraço C.

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  32. @C
    Sabes? Olha que não parece.

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  33. Sei my friend. Acredita que sei! C.

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  34. Texto realmente inspirador! O meus parabéns pela forma como conseguiste traduzir em poucas palavras, contudo sábias, anos de aprendizagem.

    Fez o meu dia este texto! Obrigado :)

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  35. @Taitz
    Eu é que agradeço as tuas palavras e a tua visita :)
    É um texto muito sentido e verdadeiro.
    abc

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