No domingo fui com o meu amigo R. à praia e, por escolha dele, fomos à 19. Enquanto caminhávamos pela beira-mar, falámos sobre a normalidade daquela praia, que tendo maioritariamente público gay, tem muitos casais heteros e famílias, que até fazem nudismos em maior escala. Às tantas o R. encontrou um grupo de amigos e ficámos junto deles. Uns mais libertos que outros, os gays na 19 parecem uma tradicional família portuguesa na Caparica, com chapéus de sol, mantas, raquetes, geleiras, cães... e muitas fotografias de uns com os outros, para o facebook, claro. Aquele enorme areal gay da Caparica dá para tudo e estava cheio, como sempre, com grupos de portugueses, espanhóis, brasileiros, franceses... e muito poucos a fazer nudismo.

A cena mais caricata da tarde aconteceu à saída da praia, junto ao bar, onde supostamente já nem é "território gay". Um jovem francês, giro e perdido de bêbado, aproximou-se de nós, muito trôpego, e despiu os calções de banho; ficou completamente nu, cambaleante, enquanto nos fitava nos olhos; seguidamente vestiu as calças e veio, com um aperto de mão, apresentar-se e perguntar o nome a cada um de nós. Depois aproximou-se de mim e do R. e, enquanto olhava de soslaio para os amigos dele, disse-nos baixinho que não gostava de gajos musculados, pois preferia os mais normais. Rimos, sem perceber a qual dos dois ele se estava a atirar. Entretanto um amigo, ainda mais giro que ele, veio chamá-lo e nós fomos embora, mas o garoto ficou parado no areal, com ar triste, a ver-nos partir.

Aquele instante deixou-me igualmente triste, com a nostálgica sensação que o verão tinha acabado...

Crónicas da praia 19, ao som de Beira-mar (Maria Bethânia).