2012/04/30

História #31
Autor: CC

ABRAÇO… AQUELE ABRAÇO!

Foi a 13 de Novembro de 2010 que tudo começava, a partir dai foi um desenrolar de sentimentos! Apesar dos 19 anos de diferença! Ele de 39, eu de 20, nascia ali um grande amor! Começou com uma troca de mensagens constantes, até ao dia da 1ª chamada, e ao dia em que ficávamos apaixonados pelas vozes, o que levava a um 1º encontro no dia 20 de Novembro! Jantamos! Passeamos! Até ao acontecer do primeiro beijo…beijo que levou ao forte Abraço! Abraço que nos deu a entrada a uma aventura de 70km de distância! Foram 7 meses de namoro e de puro amor, de pura felicidade, de diversão, de aprendizagem e muitos Abraços sempre que nos víamos e que nos despedíamos! Amor, amor, aquele que dizia, digo e direi o maior amor que alguma vez vivi, e talvez a maior aventura em que me meti! Mas que como a maioria dos namoros teve um fim! Um fim, que ainda hoje não é sentido! Mas mesmo no dia que tudo terminava, houve um Abraço, Abraço esse que guardo comigo e ao qual ainda me recordo das palavras que ele me sussurrava ao ouvido: “o fim disto não significa o fim do nosso amor, mas sim a falta de tempo para o viver!” 
AMO-TE M.
História #30
Autor: Believer

Estacionei o carro e olhei para o relógio. Já passava da meia-noite.
Olhei para ti, com um nó na garganta tão grande quanto podem ser os nós na garganta. A minha voz mal se ouviu “Tens a certeza que queres fazer isto?”  A tua resposta não variou “Eles nunca aceitarão.
Não quero viver assim, escondido e infeliz. Quero terminar com isto, quero ficar contigo para sempre.” Estremeci com estas palavras. Quem não sente as chamadas ‘borboletas’ quando a pessoa que se ama nos diz ‘Quero ficar contigo para sempre?’
Saímos do carro. Ninguém na rua. Já ali tinha estado algumas vezes, com amigos, uma ou outra vez a
fumar um charro, enquanto contemplávamos as ondas chocando impiedosamente contra as rochas, como se estas tivesse cometido um crime sem perdão. Chamam-lhe Boca do Inferno, como se aquela pudesse ser a entrada para esse mundo de sofrimento e martírio. Mas para nós, seria a entrada do céu, o fim de dois meses de uma vida camuflada, o fim da peça de teatro que tinha montado para a minha família e para os meus amigos. A partir dali, poderiamos ser nós próprios, o que quer que isso signifique após a partida.
Chegámos ao limite da rocha. Na escuridão ouvíamos os rugidos do mar. Abraçámo-nos. “Amo-te!”
Tomámos balanço, de mãos dadas. No preciso momento em que me vou lançar para a frente hesitei e
olhei para ti. As nossas mãos soltam-se. Vejo o teu rosto de menino assustado a desaparecer na escuridão.
História #29
Autor: Meia Noite e Um Quarto (00:15)

Abraçamo-nos…
“-Tantas, tantas, tantas horas a falar sobre este momento e finalmente chegou! Estou lhe abraçando…
- As tardes de Domingo, as gargalhadas e as juras compartilhadas…
- Sempre que eu mais precisei tu estava lá, na tela, enxugando minhas lágrimas com palavras, amenizando meus maus momentos com seu sorriso.
- Tinha que ser! Contigo experimentei o amor pela primeira vez, só fiz o que devia.
- Ah meu portuga! Me conheceste apaixonado por um conterrâneo teu, me aconselhaste sempre que precisei, me viste fazendo as maiores loucuras e mesmo assim não desististe de mim!
- Gosto de ti porque sim! Os sentimentos foram crescendo e nem um oceano me tirou a força de lutar por este nosso sonho!
- E é por isso que gosto tanto de ti meu portuga! Tu és o único que me apoia nos meus sonhos mais absurdos e me dás força incondicional para seguir em frente! Sonhei tanto com esse momento!
- E eu… noites e noites a adormecer e a imaginar o teu abraço a aquecer-me a alma. É surreal!
- Ninguém me conhece como tu me conhece, e ainda assim estás aqui, finalmente nos meus braços.
…”
Desenlaçamos os braços um do outro e só depois daquele longo e tão intenso abraço nos beijamos pela primeira vez.
Porque o que mais ansiávamos não era o beijo, não era ver a cara ou o corpo um do outro.

O que mais desejávamos era O Abraço! A harmonia daqueles dois corpos que se amavam.
História #28
Autor: K. (ser outro que não eu)

CRESCEMOS ASSIM TANTO?
Trago sempre na carteira uma foto nossa. Nela tu abraças-me e exibes um sorriso sem dentes. Eu ainda tinha aquela carinha angelical, muito diferente da que tenho agora, com lágrimas que teimam em não parar.

Naquela altura ainda éramos crianças. Orgulhávamo-nos dos bigodes de iogurte e comíamos ervilhas congeladas porque eram o mais próximo dos feijões mágicos dos desenhos animados. Nas nossas brincadeiras éramos muitas coisas, desde tartarugas-ninja, a moto-ratos, passando por cavaleiros do Zodíaco, guerreiros do espaço e até mosqueteiros, mas na realidade éramos sempre irmãos. E como eu era o mais novo, era hábito tu abraçares-me sempre que caía e esfolava os joelhos. Muitas vezes não havia nada de ternurento nesses abraços. Limitavas-te a apertar-me contra ti para camuflar o choro para que a mãe não ouvisse e nos mandasse para dentro de casa.

Entretanto crescemos. As minhas pernas já são do tamanho das tuas, pelo que já poderia acompanhar a tua passada sem cair. A nossa capacidade de comunicação aumentou por isso já poderíamos conversar sobre os tempos passados e dos que ainda estão para vir e que em mim substituíram o medo do escuro e de aranhas. Agora até já poderíamos competir para ver quem dá o abraço mais forte.

Nada disto acontecerá. Quando me viste abraçar e beijar o meu namorado gritaste que tinhas nojo de mim e viraste-me as costas. A partir desse momento deixamos de ser um por todos e todos por um. Aliás, tu disseste já não tenho irmão.

Tenho saudades tuas…
História #27
Autor: Speedy (hammering in my shell)

PEQUENA-HISTÓRIAS-SEM-
INTERESSE-NENHUM-MAS-QUERIA-PARTICIPAR-NO-CONCURSO-DO-SADEYES

Não te aproximes.
Não olhes para mim nem sorrias como se nada tivesse acontecido.
Como ousas entrar de novo no meu espaço?
Serás assim tão insensível ao ponto de não perceberes a dor que me infligiste? O vazio que carrego há anos?
Se não passei de um passatempo porque voltas para brincar? Estás aborrecido?
Os brinquedos velhos, gastos em novidade, querem-se no lixo.
Estou velho para jogos.
Maldito sejas, cabrão! Maldita a hora em que te deixei aproximar, em que baixei as defesas e deixei-me envolver nas tuas falsas melodias. Só o teu perfume, de uma qualquer marca francesa, deixava-me nauseado. O mesmo aroma intenso que trouxe no corpo para casa nessa noite.
Por favor não te aproximes.
Queres um abraço? Os teus trejeitos metem-me nojo, paneleiro de merda.
Esperas que esqueça, que ignore a indiferença com que me brindaste nas semanas seguintes? Que te envolva como se nada fosse?
Larga-me.
Quero um homem ao meu lado. Não um menino imberbe com pretensões a ser mais do que é.
Sinto o bater do teu coração apressado no meu peito... os teus dedos a cravarem-se nas minhas costas... o teu cheiro a monopolizar os meus sentidos.
Sussurras algo.
Por favor... larga-me.

2012/04/29


Termina amanhã (30 abril), ao final do dia, o prazo para receção das histórias concorrentes ao 2.º PIXEL - Concurso de pequenas histórias lgbt.
O regulamento pode ser lido aqui, e as outras histórias concorrentes aqui.

"Nas costas dos outros vemos as nossas."
Dito (que podia ser) gay.

2012/04/28

Kaboom (de Gregg Araki)
Mesmo não sendo o tema principal da trama, podes sempre ficar tentado pelo gajo podre de bom que divide quarto contigo.
Um filme que fez parte da seleção oficial dos festivais de Cannes, Toronto e Sundance. Vale a pena ver.

História #26
Autor: Inês Montenegro (tales of gondwana)

"PORQUÊ QUE CHORAS?"

“Porquê que choras?”
- Porque me dói.
“O quê?”
- Tudo, dói-me tudo!
Os braços curtos rodearam-no, confortando-o no seu choro de menino, livre e inocente, de brincadeiras azaradas.

“Miguel.”
- Que foi?
“Porquê que choras?”
- Não choro.
“Eu conheço-te…”
- Deixa-me.
“Não o posso fazer.”
E ele chorara, blasfemara e insultara… Socara a parede até esfolar os punhos, dando vazão ao turbilhão que a ex-namorada lhe causara quando o traíra. Deixara-se escorregar até ao chão, aceitara o novo abraço, caindo no esquecimento amado que apenas ele lhe proporcionava…

- Entrei!
“Naquele curso!? Porra, parabéns!”
- Dá-me um abraço – rira, nem ele mesmo sabendo se a sério se a brincar. Ele dera-lho, folgado e animado.

“Conseguiste?”
Miguel calou-se, o cenho cerrado, mantendo o mistério. Rafael socou-o ao de leve.
“Conseguiste ou não?”
- Que me dás se tiver conseguido?
“Um abraço.”
- E se não?
“Outro abraço.”
- Só!? Não vale!
“Um beijo. Ficas feliz?”
- Homo.
“Gay.”
- Está bem, está bem. – Um sorriso rasgado, brilhante. – Consegui. – Abriu os braços. – Tenho emprego.

O ramo de margaridas caiu sobre o caixão fechado, precedido pelo primeiro punhado de terra – ambas haviam sido um privilégio (irónico, tão irónico chama-lo assim) da família. Ele era amigo – um eterno amigo para todos os demais. Apenas Rafael sabia o quão mais eles eram.
Agora, apenas Miguel o saberia.
Regressou a casa, a notícia do acidente ainda tão descrente, tão irreal quanto no momento em que a ouvira.
Como desejara por aquele último abraço…

2012/04/27

Rufus Wainwright.
Out of the game, é o primeiro single do novo álbum duplo com o mesmo nome, que foi lançado esta semana. Adoro Rufus e esta já ficou no ouvido.


Out of this game | Out of this game, 2012 | Rufus Wainwright

2012/04/26

Já fui...
... à Picha


É dia de ir...
E como o SCP perdeu, dá vontade de mandar aqueles Bascos todos para... a Picha. Mais não digo.
Pérolas da toponímia, ao som de Conquistador (Da Vinci).
História #25
Autor: João e Luís (INDEX ebooks)


O HORTO PRODIGIOSO

Chamámos-lhe Abbo porque foi no 6º dia do mês de outubro que o encontrámos na roda dos enjeitados, olhos muito azuis, cabelo muito louro, um menino jesus, como lhe chamou o abade. O horto do mosteiro era o seu poiso predileto e, naturalmente, tomei-o por aprendiz. A sua juventude, alegria e beleza enfeitiçavam os frades, que o adoravam. As plantas a seu cuidado davam mais flores e as árvores que regava, fruta mais sumarenta. Lembro-me bem como tudo começou! O sino ainda não tinha tocado para as Vésperas, quando Abbo me apareceu, esbaforido. Estava no pomar do horto, sentiu uma mão acariciar-lhe os cabelos, voltou-se, não viu ninguém, chamou, ninguém respondeu, assustado, correu a procurar-me. “Foi o vento”, acalmei-o. Mas depois de tornar, uma vez e outra, inquieto, procurei o abade que decretou: “Abbo é tão belo e tão bom que um anjo desceu do céu para lhe tocar”. Tranquilizado pelas palavras do abade, em dias solarengos, quentes, Abbo, já rapaz, banhava-se no riacho que atravessava o fundo do horto e, húmido, fresco, estendia-se na relva para se entregar às carícias do seu anjo. As mãos invisíveis desciam-lhe agora pelo corpo, procuravam-lhe recantos escondidos e descobriam-lhe prazeres desconhecidos. Na noite de calor abafado, tardio, em que fez 17, Abbo saiu para o horto em busca duma brisa. Nessa noite as carícias do anjo foram mais insistentes, os seus gemidos mais pungentes, o seu abraço mais apertado. Abbo, surpreendido, sentiu-lhe o arfar arquejante no pescoço, certas durezas pressionando a sua carne e, ofegante de desejo, acedeu ao abraço sensual. O seu grito de êxtase foi abafado pelo casquinar diabólico que então ecoou por todos os recantos do mosteiro. Quando os frades, atemorizados, saíram a procurá-lo, não encontraram mais que erva queimada no lugar onde repousara o corpo de Abbo e um fedor infernal a enxofre pairando, insuportável.

2012/04/25

Vestindo a liberdade...


Liberdade, ao som de E depois do adeus (Paulo de Carvalho).

História #24
Autor: Silvestre (blog do silvestre)

FODA-SE

Odiei aquilo. O filho da puta veio-se na minha boca depois de eu lhe dizer que não queria, mas prendeu-me a cabeça. Não pude fazer nada. Depois riu-se quando me soltou. Qual é a graça, cabrão? Deves pensar que és a última bolacha do pacote. Ando à meia hora agoniado com um gosto a ovos podres e salgados na boca. O que é que o gajo tinha nos tomates? Nojento de merda. Se pudesse cortava-lhe os dois. O gajo até gosta de mim. Com ele estou sempre garantido. E hoje em dia não há muita coisa com a qual podemos contar. Na verdade nunca consegui contar com grande coisa por parte de ninguém. Quando se nasce na merda pouco mais se é que merda e ninguém quer ter merda agarrada aos sapatos. E o gajo está aqui todos os dias, aparece todos os dias sem falhar um. No outro dia deu-me um abraço. Disse-me que me amava enquanto desapertava as calças e me empurrava a cabeça para eu lha chupar. O meu pai também dizia que me amava enquanto me arreava 2 socos no focinho que me faziam espirrar sangue do nariz e da boca. Era para o meu bem, dizia ele. Eu era muito rebelde e esse castigo era amor… Anda tudo fodido dos cornos? Calem-se com a merda do amor. O gajo deve pensar que eu vou ficar aqui a vida toda. Sou puto mas não sou parvo. Daqui a 4 meses faço 18 anos. O meu pai já não me pode deitar a mão e deixo esta puta de vida e os cabrões que vêm aqui para ser chupados. Que morram todos! Mas antes que me encham os bolsos para eu me pirar para Londres… Mas o que é que aquele filho da puta tinha nos tomates. Foda-se.

2012/04/23

SO-FIT-STICATION, de Márcio Simões, com Henrique Winkel

 
História #23
Autor: João e Luís (INDEX ebooks)

CARTAS DE AMOR

Meu querido Afonso,

Por certo estranhaste não ter atendido os teus telefonemas e não ter respondido quando tocaste à minha porta. É verdade, mudei de telefone, mudei de casa e até de país, e só agora arranjei força e coragem para te escrever. Estou no Rio, “cidade maravilhosa, de encantos mil”, mas faz-me lembrar a nossa lua-de-mel em Pemba e dou por mim a chorar por quase nada, uma gaivota que passa a deslizar no céu rubro do poente, o estrondo seco de um coco a despenhar-se na areia. E é por isso que odeio estar aqui. As saudades de ti são uma ferida que não sara e que me dói todos os dias.
Sabes, não me chega existir só para satisfazer os teus prazeres furtivos, os prazeres que me juraste que a tua mulher não te pode dar. E já não acredito nas tuas promessas de divórcio e nas desculpas para não contares a verdade aos teus filhos. Fugi para longe porque ainda te amo muito (como nunca amei ninguém!). Tu és o meu vício, o meu grande vício, o vício em que receio voltar a cair se te aproximares de mim outra vez.
Mas vou sobreviver! Enquanto tiver amor para dar, saberei viver! Sou gay mas, ao contrário de ti, tenho orgulho de ser quem sou! Tenho toda uma vida para viver e não a vou desperdiçar. Mereço ser amado incondicionalmente e quem sabe, talvez casar.

Recebe este último abraço do teu amigo,
Rui

2012/04/22

"Ossos do ofício."
Dito (que podia ser) gay.

2012/04/21

Talvez um abraço seja um "abre-corações"...
Mais uma t-shirt antiga, para corações de "abertura fácil" - recuperada de um outro concurso de histórias - para estes dias em que esperamos por sentir o Sol outra vez.



Abertura fácil, ao som de Heart (Pet shop boys).

2012/04/20

79 é o último álbum da banda sueca Last Days Of April. Ainda não dá para sentir o Sol outra vez, mas este "Fell the sun again" foi a descoberta destes últimos dias de abril...


Fell the sun again | 79 | Last days of april.

2012/04/19


História #22
Autor: Filipe

A REVELAÇÃO


Já há muito que lhe queria contar. Nada melhor que dizer que sou gay ao meu próprio tio que também o é! Sentia aquela necessidade de contar o meu maior segredo àquele que teve comigo nos momentos mais importantes da minha vida e que melhor me conhece. Não sei se ele sabe que sou gay... mas tenho de lho dizer, sinto-o. Liguei-lhe para irmos beber um café à Brasileira, no Chiado. Marcámos para as 19h do dia seguinte. Sentámos, pedimos café e começamos a conversar.
- Ainda bem que vieste, queria mesmo falar contigo!
- Então, o que se passa?
- Passa-se algo que já deves saber…
- Acho que sei o que é…
- Gosto de homens (disse baixinho)
- O quê?
- Gosto de homens? (ainda não dava para ouvir bem)
- O quê?
Gritei - SOU GAY, PORRA!
Toda a gente olhou para mim... as pessoas que estavam na esplanada e que passavam naquela rua, olhavam-me. Senti-me envergonhado, queria sair dali! Coloquei as mãos sobre a mesa e deitei a cabeça sobre elas, a tentar esconder-me... não estava a acreditar!
O café chegou. O empregado tossiu e eu recompus-me para ele poder colocar o café na mesa. Olhei-o e mexi os lábios, a pedir desculpa. Ele piscou-me o olho e sorriu e eu sorri-lhe.
Depois o meu tio disse-me que já sabia e que o mais importante é eu ser quem sou. Ser gay não significa ser p*** e que tenho que pensar com a cabeça de cima e não com a de baixo. Ser gay é gostar de homens, é uma característica, não uma doença! É ser como qualquer outra pessoa. Amamos e gostamos de ser amados.
No fim, demos aquele abraço cúmplice, libertador e reconfortante.

História #21
Autor: Arrakis (mélange)

COMO NO CINEMA

Sentado no táxi em direcção ao aeroporto e ainda tudo me parecia mentira. Ouvia o trânsito desfilar lá fora mas aquilo era mais um filme mudo ao som de Bach.
E eu tão calmo, tão tranquilo, quase suspenso. Na minha cabeça corriam mil imagens tuas e mil imagens nossas.
Finalmente tínhamos dado o passo, largámos tudo e íamos fugir. Que ironia, tínhamos que ir para longe para estar perto um do outro.

Com os bilhetes de avião no bolso da camisa junto ao coração aos pulos entrei no hall do aeroporto e olhei em volta à tua procura. Nada, ainda não tinhas chegado.
Puxei as malas para um canto e pus-me a olhar para a entrada.
Fixava as portas automáticas que abriam e fechavam e imaginava ver-te entrar. Afinal de contas, este era o plano de abertura de um filme só nosso e não queria perder aquele início por nada deste mundo.

Entrou um grupo de turistas barulhentos que rapidamente desapareceu.
Olhei para o relógio, a porta fechou-se, voltou-se a abrir num ápice e ali estavas tu.
Entraste em meia contra-luz, com o cabelo a brilhar do sol, qual elegância de Adónis atrapalhado com as malas. Correste para mim, parecia que estavas em slow-motion como nos filmes. Parámos frente a frente e abrimos os braços para um abraço tão forte e apertado que perdemos a noção do tempo.

Foi perfeito como no cinema.
Já fui...
... ao Amor


E como é dia de ir...
Este é um daqueles lugares de tentação, para quem passa pela zona de Leiria. Quem nunca lá foi, já se sentiu, certamente, tentado a ir...
Pérolas da toponímia, ao som de Conquistador (Da Vinci).

2012/04/18


História #20
Autor: Silvestre (blog do silvestre)

DEUS, OS HOMENS E AS MULHERES

«A menina quer conhecer a verdade do Amor?» disse-lhe aquela senhora com um ar de solteirona abandonada. «Desculpe?» respondeu a rapariga com um sorriso, abruptamente resgatada dos seus pensamentos. «A verdade do amor único e verdadeiro que encontra em Deus e que...». A rapariga interrompeu «por favor não me leve a mal, mas sou dada a amores mais terrenos… físicos». «Mas o amor dos homens não se compara à glória de Deus, como pode renega-lo em prol da satisfação dos desejos físicos» insistiu a mulher. A rapariga, fez um ar condescendente «agradeço-lhe muito a preocupação, mas também não sou dada ao amor dos homens. Só tenho prazer com o amor das mulheres, assim sendo estou aparentemente fora desse grupo». «Isso é Satanás a falar pela sua boca» contrapôs a mulher com ar horrorizado. «O demónio está instalado no seu corpo». «A que chama demónio? O gostar de sentir o corpo suave de uma mulher contra o meu, os mamilos eretos a roçarem-me a pele enquanto os lábios húmidos me exploram do pescoço aos pés?». A mulher a quem de repente a voz fugiu pelo efeito do espanto e da aversão, respondeu com um guincho entre o infantil e o animal «Senhor Meu Deus, salva esta mulher possuída pela Serpente…». «humm… a serpente…» continuou a rapariga com um ar libidinoso «a minha companheira tem uma língua ágil como uma serpente e dedos hábeis que já conhecem de cor o mapa das minhas pernas e das minhas nádegas e todo os caminhos que levam a serpente à minha…». «Chega!» gritou a mulher, afastando-se meio trôpega e rapidamente por força da cólera. «Já vai embora?» perguntou a rapariga «Nem me dá um abracinho de despedida?».
Mais dois rapazes dos perfumes: o tatto e o original. Eu continuo com o original...
Quase que merecia um abraço :-) 

 

2012/04/17


História #19
Autor: Francisco (um deus caído do olímpo)

OLHOS VERDES

Senti um toque nas minhas costas, olhei para trás e reparei que era o "Olhos Verdes". Apenas cheguei-me atrás e enrosquei-me no corpo dele. Adorei sentir os seus braços envolverem-me junto ao seu corpo e pouco tempo depois, ele tinha as mãos dele dentro dos meus bolsos da frente...
Fomos em direcção à praia de mão dada. Pelo caminho trocámos alguns beijos. Não me recordo do nome dele, apenas me lembro que ele estava a trabalhar em Espanha para juntar dinheiro para ajudar no casamento de uma irmã.
Beijámo-nos à beira mar, à medida que o calor dos beijos "subia", começava a desaparecer a roupa dos nossos corpos. Estávamos de cuecas e fomos ao banho. Até ali só tínhamos trocado beijos e abraços...
Saímos da água e caímos um em cima do outro. Os nossos corpos encontraram-se e uniram-se num só...
No final, acompanhei-o até perto do apartamento e despedimos com a promessa de nos vermos no dia seguinte. As nossas últimas palavras foram: - "Hasta Mañana"
Por culpa minha, não voltei ao local e à hora marcada. Aos dias de hoje, apenas me lembro do cheiro do seu corpo no nosso último abraço.

História #18
Autor: Abraço-te (abraço-te)

Um abraço...

Um abraço...
É tudo o que preciso quando estás longe, acompanhado pelo teu toque, o teu beijo, o desejo.
É tudo o que me faz falta, o teu calor, o teu odor, o teu amor.

Um abraço...
Que se define como a minha estrela, o meu guia, o meu dia a dia.
Que se define como a minha âncora, o meu objectivo, como sobrevivo.

Um abraço...
Pudesse eu...sentir um todos os dias e não só nos nossos dias.
Pudesse eu...sentir um todos os dias como ar que respiro.

Um abraço...
Que me faça esquecer a tua ausência.
Que me faça esquecer o teu chegar tardio, o vazio.

Um Abraço...O teu Abraço.
A minha lua, o meu chão, o meu coração,
O meu sol, o meu fogo que arde sem se ver.
Sim!!! O teu abraço constante...Aquele Abraço!!!

Abraço-te

História #17
Autor: Freddy (let's talk)

HUGS

2012/04/16

História #16
Autor: Samburá


O ABRAÇO

Há quanto tempo tinha acontecido. A memoria prega nos partidas. Tinham decorrido aproximadamente 15 anos desde a última vez que o vira. E agora uma saia azul a cruzar o Chiado trouxera me de repente a cor do barco, o mesmo azul, no galpão de remo, tínhamos ambos 19 anos.
Que seria feito dele? Meu amor secreto. Recordo o corpo esbelto e longilíneo.
Lembrar se ia de mim?
Tínhamos acabado o treino e como era hábito estávamos a lavar o barco cá fora, já o sol incendiava o mar.
O treinador precisou de sair mais cedo.
- Paulo depois passas lá em casa e levas me as chaves.
- Ok chefe.
- Enfim sós. Piscou me o olho e riu se...
O fato de banho, reduzido, era de um castanho dourado que se fundia com a pele.
E o chuveiro ao fundo, precário, onde era preciso disputar o espaço...
- Estás a olhar para onde?
Disse, tirando o fato de banho.
- Para ti.
- Louco.
Que estúpido pensei, perdi a cabeça, e agora?
Nunca tínhamos estado nus sozinhos.
Mergulhei no chuveiro de olhos fechados, a água fria a apagar o fogo.
Foi quando me agarraste contra os azulejos, e sofregamente me beijaste a boca.
Ainda hoje sinto o gosto...
- Por favor quanto devo?
Uma garotinha que corria entre as mesas, surge do nada e derruba o resto do café nas minhas calças.
- Desculpe.
- Paulo, Paulo chega aqui. A tua filha...
- Paulo? Paulo... o que?
- Não vais acreditar eu estava precisamente a pensar em...
- Meu querido... meu querido (sussurrou me ao ouvido).
- Encontrar te foi o meu presente de Natal.
E um abraço do tamanho do mundo envolveu-me a alma.
(História Verídica)

2012/04/15

História #15
Autor: Rosa Carioca (pensamentos e sentimentos)


Era o seu casamento. Uma cerimónia muito simples, na presença do representante legal do cartório, mais uma mão cheia de parentes; uns em comunhão com a sua alegria; outros, nem por isso…
Enquanto o senhor do cartório falava sobre a importância do “contrato” que se celebrava, muita coisa passava pela cabeça dela.
Ela já tinha perdido o seu pai. Já tinha sofrido imensas decepções de pessoas que julgava amigas.
Ela já tinha vivido uma guerra e inúmeras vezes foi forçada a adaptar-se a novas situações, diversas escolas, empregos, países.
Ela já tinha sofrido uma grande desilusão amorosa e, agora, casava com um homem, divorciado, e com o qual namorava a três meses.
Estaria a ser precipitada? Deveria conhecê-lo melhor? Depois de tanto tempo vivendo livre e independente, conseguiria partilhar o seu dia a dia?
No meio de tantos pensamentos, a cerimónia chega ao fim.
Trocam-se as alianças. Sela-se com um beijo. Começam os cumprimentos dos presentes.
A mãe dela, feliz e emocionada, abraça-a e diz-lhe ao ouvido: - Teu pai está feliz, por ti.
Uma das cunhadas faz uma subtil observação: - Vamos lá ver se é desta…
A certa altura uma criança, uma menininha de três anos, também lhe dá um abraço.
Ela sente-se protegida por dois bracinhos. Dois pequenos bracinhos que, através de um abraço, conseguem transmitir-lhe uma enorme paz, uma feliz harmonia, uma grande certeza que a vida pode oferecer-nos momentos muito felizes. Hoje, mesmo já passados nove anos, ela lembra-se de como soube bem AQUELE ABRAÇO.

"Quem vê caras não vê corações."
Dito (que podia ser) gay.

2012/04/14

Há muitas formas de abraços...

O casal sensação de 2011 (Ângelo Rodrigues e Iva Domingues) arrasou na capa da GQ Portugal do passado dezembro. Talvez porque, por onde o Ângelo passa, arrasa (e julgo que foi mesmo o primeiro homem na capa da revista). 
Aqui, por exemplo, postei uma singela foto do moço, no "Para despertar..." de fevereiro, que já se tornou o post mais visto desde blogue.
Na senda dos abraços, não resisti a este "abraço" com citação.

2012/04/13

Em abril de abraços, e porque é sexta-feira, deixo-vos em repeat esta música da Mafalda Veiga, de 2008, do álbum Chão.


Abraça-me bem | Chão, 2008 | Mafalda Veiga.
História #14
Autor: Margarida (sem nome)

ABRAÇO QUE CURA

Esta história passou-se esta manhã (vou tentar descrevê-la de memória, porque me pareceu muito mal tirar o caderno do saco e anotá-la com eles à minha frente).
Uma mãe e o seu filho adolescente (é visível a Deficiência Mental do jovem) sentam-se junto a mim no comboio. O rapaz passou o tempo a inquirir a mãe (já de uma certa idade). A mãe, umas vezes paciente, outras a suspirar, cansada, lá lhe respondia.
- Amanhã vamos a Coimbra, Mãe? Saímos em Sete Rios e compramos o bilhete, está bem, Mãe?
- Está bem, João, compramos o bilhete em Sete Rios.
- Vamos a Coimbra, Mãe?
- É só em Maio, João. Estamos em Abril.
- Mas vamos a Coimbra, Mãe?
- Sim, João. Vamos a Coimbra.
- Tu não podes ficar doente, Mãe. O João fica preocupado.
- Todos ficam doentes, João. Eu também.
[e eu ouvia - já não conseguia concentrar-me no "Juliano".]
- Tu não podes ficar doente, Mãe. - repetiu o João.
[ele estava sentado ao meu lado e a mãe à sua frente.]
- Oh, João... - ela suspirou, sorrindo.
- Dá-me um abraço, Mãe. - o filho inclinou-se e abriu os braços - Tu não podes ficar doente.
- Sim, João, com os teus abraços a Mãe não fica doente. - disse ela, abraçando-o muito.
[não tive coragem de pedir um abraço ao João, mas tenho a certeza que mo teria dado e curado as minhas dores.]
tens pinta?
A Bianca (que foi uma das finalista do primeiro PIXEL), do blogue Cabra Branca, lançou um desafio para saber se temos pinta :-)
E porque ela acha que os leitores do meu blogue têm muita pinta, aqui estou eu a divulgar o tens pinta?
A ideia é simples: fotografa a tua pinta corporal mais sensual e envia a foto para a Bianca, pela ela publicar. No final desta peregrinação de pintas, será escolhida a melhor. O concurso decorrerá (e tem lógica) até 13 de maio.
Com tanta pinta, julgo que só poderá ser um sucesso :)

Esta o cartaz do concurso e as regras estão aqui.

2012/04/12

Já fui...
... à Rua dos Abraços


E como é dia de ir...
Diz o Google Maps que afinal Portugal está cheio de Ruas dos Abraços: Armação de Pêra (foto em cima), Vila Nova de Gaia, Santa Maria da Feira, Mesão Frio, Aveiro...
Já morei na Rua da Saudade, mas fiquei com vontade de um dia morar numa Rua dos Abraços.
Rua dos Abraços, ao som de Conquistador (Da Vinci).
História #13
Autor: Silvestre (blog do silvestre)


AQUELE ABRAÇO

Foi há 20h. Apareceu de surpresa à porta do meu trabalho. Ficou parado a olhar para mim com aquele sorriso pateta que lhe chega às orelhas, como se tivesse tido um ataque de paralisia facial enquanto se ria. Perguntou-me «somos melhores amigos não somos»? «Os melhores» respondi. Ele continuou. «Estou tão feliz, arrisquei como me ensinaste. Conheci uma pessoa. Aliás venho agora de casa dele. Não conseguimos deixar de estar juntos. É maravilhoso». Eu sei que me disse que estava feliz, que era maravilhoso, que somos melhores amigos, mas… “de casa dele”, teria ouvido bem? «Ele?» perguntei com ar jocoso para não ficar mal. «Sim, é um “ele”. Mas, sempre me disseste que não importa quem amamos, desde que seja puro e honesto». Gelei. Perdi o sorriso. «É uma brincadeira?» perguntei. Ele gaguejou «não… é a sério… não compreendo». Perdi a calma «Não compreendes?! Que parte é que não compreendes? A de que és um depravado ou a de que és um porco? Tu estás a dizer-me que és um maricas de merda e esperas que fique calmo?». Assumiu um ar confuso e culpado que ainda me enfureceu mais «nunca pensei… eu… pai, por favor…». Estendeu os braços para me abraçar. «Queres abraçar-me? Despedaças os sonhos que tenho para ti, estilhaças a nossa confiança e queres um abraço? És um traidor, metes-me nojo!» Fui-me embora e deixei-o com aquele abraço por entregar. O coma pode ser irreversível disseram-me. Se calhar o acidente foi por minha culpa, porque lhe menti a ele e a mim. Não tenho nojo dele, amo-o desesperadamente e ele é o meu melhor amigo. Quero tanto aquele abraço que deixei por entregar…
História #12
Autor: Camaleão

Banda sonora: Set Fire to Flames- Fading Lights Are Fading... / Reign Rebuil

« A chuva e os batimentos acelerados do meu coração dificultavam o entendimento das palavras, para lá da porta.
Misturavam-se gritos e eu não sabia o que fazer. Ouviam-se insultos, num tom grave, e alguém suplicava.
Cessaram os gritos, ficaram os lamentos. Abateu-se um estrondo sobre a casa e não tivera sido um trovão – fora o meu pai que saíra.
Destranquei a porta do meu quarto e, lentamente, avancei pelo corredor.
Brotaram as lágrimas pela face, quando os meus olhos pousaram no corpo maltratado de minha mãe – o corpo onde eu fora gerado-, o sangue escorrendo pelos lábios- lábios que tantas vezes eu vira beijados por aquele homem… Vibrava o temor na sua alma, agora mutilada.
Com as lágrimas turvando-me a visão, agachei-me e chamei por ela, que, distante, fitava a chuva. O negrume da noite pintava o seu rosto com sombras de horror e vi nos seus olhos azuis, não o céu brilhante que sempre me aconchegava mas, um mar tempestuoso que me repelia.
Mãe, sou eu… disse-lhe, e levemente toquei-lhe no braço. Retraiu-se, suspirou e indolentemente voltou o seu rosto para mim.
O seu pranto tinha cessado mas as lágrimas ainda pendiam como cristais. Inúteis eram as palavras; por isso, envolvi-a nos meus braços. Com a cabeça no meu ombro, adormeceu - ou desmaiara; ao certo, nunca soube.
Silenciei o meu choro e, tranquilamente, beijei a sua face. Assim ficámos até ao amanhecer. Como duas crianças a precisarem de conforto.

Hoje, vivemos felizes os três: eu, a minha mãe e a sua companheira. »
Free Hugs in Lisbon.
Não sou de abraço fácil, e talvez por isso goste destes movimentos. Um dia destes ganho coragem e desenho um t-shirt "free hugs", quem sabe, para sair por aí a abraçar o Mundo. Seria um bom mote para uma t-shirt de viagens.
Dos vários vídeos que tenho visto, pessoalmente gosto mais destas histórias de "free hugs" unipessoais, mas também não descarto a possibilidade de participar numa parada de abraços (se é que já existe).
Ficam ideias e abraços. Aqueles, claro.




História #11
Autor: Miguel (um voo cego a nada)


FADO DO ABRAÇO

Nunca negues um abraço
A quem o queres oferecer
No desenho do teu braço
O gesto imprime o traço
Fica impresso o teu querer

Quisera eu dar-te um abraço
Apertado e com ternura
Mas hesito se te maço
E temo o gelo do aço
Que respondas com secura

Mas à noite armo o laço
Se a sombra te sinto cruzar
Sem cuidar se me desgraço
Desvairado, estugo o passo
E corro para te abraçar

2012/04/11

História #10
Autor: Pedro (my story)


ERASMUS

‘Por favor, onde fica a biblioteca? ‘

Uma voz doce num português mal falado, ainda não dominado.
Olhei e fiquei preso a tamanha beleza: rapaz esbelto, alto, cabelo preto, olhos azuis... Meu coração bateu mais forte.

‘Sim? Ah! a biblioteca, é... por ali... ou melhor, vem que eu te acompanho.’

E fui! (era erasmus - colega estrangeiro, novo e... lindo)
A nossa empatia começou logo ali.
Mostrei a biblioteca, a cantina, eu sei lá... tudo, tudo... e não queria que o tempo terminasse.
Agradeceu-me e convidou-me a ir até ao seu quarto na residência para estrangeiros.

'Não! Agora não! ' (sim - pensava eu; vai, não sejas parvo...)

Não consegui dormir.
E ele também não (soube-o depois).

Comecei como amigo, insinuando-me, e ele correspondeu.
Tornámo-nos íntimos... Nunca passei tanto tempo naquela residência.

Como nos amámos...

Não era apenas a beleza, mas tudo nele era perfeito.
Foram seis meses de entrega a este amor.


‘Está tudo? Não esqueces nada? ‘
‘Vem comigo’ – dizia-me ele na hora de voltar ao seu país.

Não fui. (e queria ir…).

‘Vou ter contigo mal comecem as férias. Dás-me estadia? ‘ (risos)

Um abraço que encerrava seis meses das nossas vidas, um abraço interminável, doce e amargo, um abraço único como se fosse o último, uma carícia no cabelo antes do beijo e das lágrimas...

‘Vai com cuidado e telefona-me mal chegues. ‘

Não chegou! O acidente de viação em que se envolveu foi fatal!

Onde estiveres, eu penso em ti, meu amor!
História #09
Autor: João e Luís (INDEX ebooks)

 
NAS NUVENS

- Não fujas.
- Espera aí que eu já te apanho.
A adrenalina pulsa-me no corpo e impulsiona-me para a frente, cegamente, para longe das vozes que me perseguem.
- Paneleiro!
- Maricas!
Não sei ao certo quantos são. Mas são muitos e eu estou sozinho, por minha conta. A raiva deles alimenta a minha força e vou escapar-lhes.
- Se te apanho, dou cabo de ti.
- Mariconço de merda!
Subitamente, as pernas perdem apoio. Caio no alcatrão sujo. Nos lábios sinto o sabor doce de sangue misturado com o salgado do suor. O choque e a surpresa da queda imobilizam-me por instantes. As vozes aproximam-se, perigosamente.
- Olh’á bicha caiu!
- Tás f***** meu!
Não me consigo levantar. O primeiro pontapé atinge-me no estômago e a dor violenta faz-me dobrar. Ouço gargalhadas e gritos de ódio, mas já não distingo o que dizem. Os golpes sucedem-se, nas pernas, na cabeça, nas costas. Assumo a posição fetal, virado de lado, incapaz de reagir. Sinto-me a esvaziar, a perder a consciência, a flutuar nas nuvens, a desmaiar.
Mas agora dois braços fortes envolvem-me num abraço firme, lábios quentes roçam-me o pescoço num beijo suave e sussurram-me ao ouvido: “amorzão, estou aqui, sou eu, acalma-te.” Entreabro os olhos ensonados e percebo tudo. Aninho-me mais no abraço do meu namorado e volto a adormecer, tranquilo.