2013/01/17

Recentemente fui convocado para participar num inquérito institucional sobre igualdade de género, visando a preparação de um plano, ao que percebi, legalmente previsto, e que tem vindo a ser elaborado por várias instituições na última década.
Talvez porque a minha/nossa condição me/nos deixe permanentemente com o “radar” ligado, quando me anunciaram que fazia parte de um grupo de pessoas que seria inquirida sobre a elaboração do referido documento, achei que a pouca amplitude de um plano que se focava na igualdade, era em si mesmo desigual.
Não estava errado. Não obstante o tema central ser a igualdade de género, quando fui confrontado com o questionário senti-me verdadeiramente ofendido. Em dado momento era feita uma incursão por outras desigualdades, mas na extensa lista de discriminações a que pudéssemos ter sido sujeitos, nem uma referência se fazia à orientação sexual. O meu direito de expressão – mesmo que anonimamente – limitava-se a pouco mais de uma cruz no último quadradinho dos “outros”, como se esta fosse a menor de todas as desigualdades.
É assim que somos tratados num inquérito institucional que hipocritamente revela tanta preocupação sobre a igualdade entre homens e mulheres, fazendo tábua rasa da que não existe entre homens... e homens. 

Mais que não seja, estamos todos os dias sujeitos a ouvir piadas depreciativas sobre gays, exponencialmente com mais frequências do que as que são feitas sobre qualquer outra diferença ou opção. Hoje, em 7 horas de trabalho, por 3 ou 4 vezes foram feitas piadas sobre gays. 
Mas estes nem são os atos mais ofensivas. No último ano, que por muitas razões não foi dos mais fáceis para mim, fui sujeito ao mais duro ataque de homofobia que alguma vez sofri. Para além de me ter sentido ofendido na minha dignidade, tive a minha integridade física em risco e tornou-se imperativo mudar de casa de um dia para o outro (literalmente), porque seria incapaz de ter como vizinho do lado um animal (quase irracional) que não sabia viver com as diferenças dos outros.
Igualdade, ao som de Diferente (Gotan Project).

32 comentários:

  1. é como se costuma dizer "homossexualidade não é crime, homofobia sim."

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    1. É simples de o perceber, especialmente quando o sentimos na pele.
      Abc

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  2. Credo isso é horrível. Portugal ainda é um país muito conservador. Embora se perguntarmos à maioria das pessoas se são preconceitos-as? elas respondem sempre que não. Mas quando vem algo de novo, só sabem criticar e olhar de lado.

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    1. É uma grande verdade essa. Muitas pessoas dizem não ser preconceituosas, mas percebemos o preconceito nos mais simples dos discursos.
      Abc

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  3. Ainda há muito caminho para percorrer apesar do muito que já se progrediu... e não podemos desanimar! Espírito positivo porque a "razão" está do nosso lado!

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    1. Sinceramente tenho percebido que estamos mais atrasados do que parecemos. Portugal não é só Lisboa e conhecer a realidade do país assusta um pouco.
      Abraço.

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  4. Portugal no seu melhor...

    E o João tem razão

    Beijo

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  5. Bem verdade, as pessoas dizem que são para a frentex, mas creio que a homofobia ainda está mais presentes nos gays que estão dentro do armário

    Abraço

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    1. Julgo que não se pode tipificar. Há gays que são homofóbicos para se camuflarem, mas acho que esses acabam por se uns pobres coitados...
      Abc

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  6. bom, basicamente cingem-se à igualdade do género entre homem e mulher, isto segundo a cig.
    no meu serviço foram alguns técnicos que se arvoram em serem formadores só porque têm o curso de formação de formadores que deram essa formação. não fui. estar de baixa foi a desculpa perfeita.
    quando a sociedade deixar de ter antolhos, quando as mentalidades perderem a tacanhez, sentir-me-ei muito feliz. muito há que fazer, sim.
    e não és o único que ouves isso. no comboio, no trabalho, as piadinhas sobre gays e lésbicas são o prato do dia e de gente da nossa idade que, teoricamente, devia ser mais aberta.
    bjs.

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    1. Fiquei escandalizado ao perceber que se fazia um plano sobre igualdade, com todos os custos que isso envolve, e o mesmo só aborda a igualdade de género.
      As piadas são de gente de todas as idades, mas essa é apenas a face visível (e que parece ser inofensiva, sem o ser) do preconceito que tantas vezes se torna ofensivo das mais variadas formas.
      Bjs

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  7. Ainda há muito caminho para andar...
    E o caminho faz-se caminhando.
    Todos podemos contribuir para uma sociedade melhor, sem preconceitos.
    Um abraço, Sad.

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    1. É verdade. Temos todos uma cota de responsabilidade e eu reconheço que tenho muito por fazer também.
      Abc

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  8. Triste. Sinto-me sem reacção quando fico a saber ou mesmo presencio cenas como essa, de pura violência contra a integridade psicológica ou física de uma pessoa por esta amar. Sim porque nós amamos e somos discriminad@s por isso, pelo simples e delicado acto de sentir amor por uma pessoa, do mesmo sexo...
    Somos mal tratad@s, odiad@s, colocad@s de parte, esquecid@s e no pior dos cenários chorad@s, tudo porque não fazemos o mesmo que os outros, porque os nossos corações vêm para lá das limitações desta sociedade podre e sem moral para falar sobre o que quer que seja!
    Por isso força, se te deixares abater por esse tipo de actos esta m**** de sociedade vai estar a ganhar, e não podemos deixar que isso aconteça né? ;)
    Com todo o meu apoio,
    Abraço

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    1. Tu és um exemplo a seguir :)
      Fica sabendo que o teu exemplo é sempre inspirador.
      Agradeço as tuas palavras.
      Abraço

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  9. Bem, fiquei curioso em relação a tudo isto.
    Quando teclar contigo, pessoalmente, gostaria de saber um pouco mais sobre a questão do vizinho e da mudança de casa.
    Subscrevo o João e Margarida, naturalmente.
    O nosso país assinou compromissos, e enquadra-se, em plataformas de defesa dos direitos humanos e lgbt, reformulou e aplicou leis novas em conformidade, mas o esquecimento da educação, formação e informação cívicas e humanas desde a pré-primária ao cidadão trabalhador, faz do compromisso e da lei letra morta.
    Há também que racionalizar e objetivar as coisas. O teu vizinho é certamente um caso pontual, e concordo com a tua mudança (devia ter sido reportada, contudo, a uma associação de defesa de direitos lgbt, para registo de caso). É verdade que existem ainda muitos casos pontuais, mas o povo português não é o pior. Mas também se encontra longe do melhor, e aqui se impõe muito trabalho a fazer.
    Mentalidades não se mudam com leis de um dia para o outro.
    Sobre as piadas de auto-afirmação... Devem ser encaradas como tal. Psicologicamente revelam a fragilidade de quem as profere. Podes chamar a atenção para o assunto. Se tiveres coragem e/ou vontade firme. O futuro começa dos nossos lábios para fora.

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    1. Sempre sábias as tuas palavras. É verdade que deveria ter reportado o caso, mas não o fiz.
      E é uma grande verdade a de que o futuro começa nos nosso atos e dos nosso lábios para fora.
      Abraço

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  10. É uma realidade para a qual somos chamados diariamente. As piadas ordinárias, os comentários jocosos e as observações homofóbicas estão presentes, sempre, assim nós estejamos dispostos a encará-las. Na minha faculdade, já ouvi frequentemente alusões à sexualidade de A e B, depreciativas, na maioria dos casos. A homofobia está profundamente enraizada na sociedade portuguesa. Se repararmos, o calão infame sobre o homossexual masculino é sempre uma das moedas que mais se joga quando o que está em causa é ofender. E, oh, como se sentem ofendidos e feridos quando se põe em causa a heterossexualidade mantida e defendida contra tudo e todos!...
    O teu vizinho é o espelho da ignorância e, quantas vezes, do medo. O ódio e a perseguição escondem outras realidades e é mais frequente do que possamos imaginar. Por vezes, escondem lutas internas contra a própria sexualidade que se reprime.

    abraço.

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    1. É verdade. Como disse, as piadolas nem são os casos mais ofensivos, mas começa a não haver paciência para as mesmas piadas todo os dias.
      E tb oiço os comentários à orientação sexual de um ou outro, sempre nas suas costas, porque pela frente é a hipocrisia do costume.
      Abraço

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  11. Esse teu caso foi extremamente violento para ti e mesmo que seja considerado um caso pontual, ele aconteceu realmente e levou-te a tomar medidas, embora não tivesses tomado uma fundamental e que já aqui foi focada: participares o caso.
    O que o Francisco diz não me parece tão residual como isso, pois sinto muito homofobia nos homossexuais reprimidos.
    E há outro facto que me parece não ser tanto como dizes - é a questão de que se a homofobia em Lisboa é relativa, na província é bem pior. Eu não digo no meio rural, que não conheço, mas na maioria dos centros urbanos talvez haja menos homofobia que em Lisboa; só para falar numa terra que tu conheces bem, a Covilhã, eu sendo de lá e sendo uma pessoa bastante conhecida lá por ter pertencido a variadas colectividades e profissões, sei, e até porque nunca o camuflei, que muita gente sabe que sou homossexual e nunca tive a menor razão de queixa.
    Aliás, enquanto lá vivi, na idade adulta, durante 14 anos, conheci muita gente homossexual que nunca se queixou também.
    E há outras cidades em que sucede o mesmo: Leiria, Viseu, para não falar nos centros maiores, como Setúbal, Braga ou Coimbra. E claro, o Porto...

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    1. É bem verdade que deveria ter participado o caso mas não foi o mais importante para mim na altura, e sinceramente prefiro manter distância do que aconteceu.
      Quanto ao que penso da homofobia nos pequenos centros, falo das minhas impressões, embora admita que possa estar errado.
      Abraço

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  12. Já foi tudo dito e subscrevo a totalidade dos comentários. É, de facto, uma realidade infeliz que reflecte a pobreza de espírito de um povo e não só a do nosso. Veja-se o caso da França com a recente tentativa de aprovação do casamento gay. Nunca vi tanta homofobia, nomeadamente das figuras públicas assumidas, como o Karl Lagerfeld por exemplo, que vieram a público revelar que estavam e iam votar contra. Enfim...
    Quanto à cena do teu vizinho, devias ter denunciado a situação e se calhar ainda vais a tempo, nem que seja para que o incidente fique registado. Se não lutarmos pela nossa dignidade, ninguém o fará por nós.
    Abraço Sad!

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    1. A histórias do meu vizinho é lamentável, e senti-o na pele, mas é o reflexo de uma sociedade que quando fala de desigualdades e descriminação se esquece daquela que nós sofremos.
      Abraço

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  13. Não devias sujeitar-te a isso, por orgulho e respeito próprio...não devias ter que lidar com o que lidas diariamente, quão difícil deve ser para ti...concordando com o João, nos centros maiores vivência-se menos esse tipo de situações, tendo a perfeita noção da crise laboral em que vivemos, pergunto-te, não te apetece mudar de vida?O que te impede?

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    1. Parece-me que o João dizia o contrário, embora eu não concorde. Tenho o caso de amigos que tem amigos gays, com os quais parecem conviver sem preconceito, mas pelas costas (não sabendo que tb sou) fazem comentário nem sempre muito agradáveis.
      Quanto a mudanças, por muito que as queira fazer, não me parece que este ano isso possa acontecer, mas ando a delinear um plano para que aconteça o mais breve possível.
      Abc

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  14. Em tempos mudei de cidade pelas mesmas razões e nunca mais serei a mesma pessoa, principalmente no que diz respeito a sentir confiança total para estar onde eu quiser com quem eu quiser a fazer o que me apetecer. Ainda assim não deixo que essa experiência domine a minha vida.

    Actualmente trabalho com as melhores pessoas que eu poderia trabalhar. Ainda assim, por estar neste fim do mundo onde a maior ignorância das pessoas é acharem que estão no centro do universo todos os dias sou vitima de preconceito.

    Um exemplo simples, a minha melhor amiga, para dizer a alguém quem sou eu define-me por "gay". O gay que trabalha ali em tal sitio ou que namora com tal pessoa... E nunca percebeu a ofensa que isso é para mim. Sempre que sei que isto acontece ponho em causa se devo continuar a ter algum respeito por ela.
    Outra situação que me tira do sério é quando dizem "eu aceito os gays desde que não venham para cima de mim"... é algo que se diz muito aqui.


    Enfim... eu acho que vou escrever sobre isto.

    Abraço Sad!

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    1. Como entendo bem essa insegurança com que ficaste. Eu segui em frente, mas ficou lá uma marca que me condiciona muito.
      Quanto à tua amiga, como disse acima, não é por as pessoas se dizerem nossas amigas que o são, e esse comportamento dela é deveras lamentável...
      Abc

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  15. O caso do teu vizinho, que nem se passou há tanto tempo quanto isso, deve ter sido um verdadeiro pesadelo que só tu poderás explicar. Apesar da importância da participação do caso, compreendo que naquele momento a tua integridade física era a prioridade. Infelizmente, vivemos num país bastante atrasado. É curioso, em alguns aspectos como este vivemos num país em que a legislação está à frente das mentalidades. Quando falo com amigos estrangeiros, que nos acolheram em casa deles, e eles dizem 'mas porque não se assumem aí, que o casamento gay até é reconhecido?', costumo dizer que não são as leis que controlam as mentalidades. Esse estudo parece a recorrência num erro já sistemático, ignorar o que não é conveniente.

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    1. O post era essencialmente sobre o estudo, com o meu caso como exemplo (porque explica as suas falhas).
      Mas tocaste num ponto essencial, o das leis. Diz-se sempre que somos um país com boas leis, e concordo, mas elas não mudam mentalidades.
      Abc

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  16. há inquéritos e inquéritos, como tudo, mas de facto às vezes há coisas que parecem ter sido desenhadas para nos arreliar com o modo como apresentam as desigualdades, porque justamente só olham numa direção, os outros que se lixem.
    fico muito triste com o "episódio" que te aconteceu! de resto, a prova de que mudam as leis e continuam as mentalidades - e essas não mudam por decreto (infelizmente).

    abraço

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  17. Há inquéritos e inquéritos, de facto, e este era um dos que tinha a obrigação de não ter essa falha enorme.
    As mentalidades vão mudando, felizmente.
    Abc

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