2013/02/20

No primeiro dia de 2010 comecei a fazer uma espécie de caderno de "viagens" sobre a década que se iniciava, com um registo, através de colagens, dos momentos mais importantes destes 10 anos. No início era empolgante e até difícil escolher os melhores momentos (entre as coisas mais banais que representavam momentos marcantes), por isso fui guardando coisas que depois iria filtrar. Nesta altura tenho um saco com o dito caderno e um amontoado de coisas por colar, guardadas no fundo do roupeiro... Tenho adiado o dia em que vou pegar no saco, espalhar todos esses "momentos" em cima da cama e começar a fazer o filme desta "viagem"... Os 2 primeiros anos da década foram preenchidos por um namoro que terminou de forma abrupta, mas que naturalmente deixou muitas marcas durante esse período. Hoje, enquanto fazia limpezas, encontrei um bilhete que representava um momento importante ocorrido no final do ano passado, e enquanto pensava na sua relevância, num pensamento de vai-para-o-lixo ou vai-para-o-saco, percebi que as memórias têm essa mesma importância relativa. Aqueles momentos que parecem ter uma importância demasiado grande, não a têm (sem que deixem de a ter). O que não era amor, embora parecesse, não deixa de ser uma memória, por muito que isso nos custe. 
Afinal, as memórias são como as páginas deste caderno de viagens...
Memórias, ao som de Remember (John Lennon).

20 comentários:

  1. É curioso (visto de fora) e possivelmente doloroso (visto dentro de ti), como passado já bastante tempo sobre o fim do teu relacionamento, ele continua tão presente no teu pensamento.
    Aliás neste texto tão bem escrito, tu próprio o reconheces quando ficas indeciso no destino a dar ao bilhete e ao afirmares a importância relativa das memórias.
    Era bom para ti, relativizares realmente as memórias e tão breve quanto possível encontrasses alguém, que te ajudasse nesse propósito.
    Bem o mereces...

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    1. Agradeço as tuas palavras João.
      De facto, visto de dentro tem sido muito doloroso, mas passou apenas um ano, e para a importância que teve para mim, um ano não é assim tanto...
      Mas claro que é importante relativizar as memórias, e é o que tenho tentado fazer. Talvez a construção deste caderno de "viagens" me ajude nesse propósito.
      Abraço

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  2. Não podemos deixar que o passado nos prenda... nem o futuro, ou como dizia EM Forster: "How does anything end? One should act as if things last".
    (PS: adorei o texto... excelente!)

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    1. É uma belo pensamento, e ótimo será se o conseguirmos por em prática. Veremos.
      Obrigado :)
      Abraço

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  3. as memórias são isso mesmo, páginas da nossa vida que se vão virando e relendo conforme precisamos. se necessitamos de um bocadinho de ânimo, recordamos os bons momentos. os maus, bem, esses também fazem parte da vida, qual seria a piada se os momentos fossem todos bons, nem teríamos um modo de comparação :) não te fixes em más memórias, contudo. tens a vida pela frente e abre um caderno novo para esta década.
    (deste-me uma ideia, este ano entro nos -enta e dificilmente de cá sairei. acho que estrearei um caderno).
    bjs.

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    1. Margarida, o caderno está aberto. Era essa a mensagem. Decidi fazer um caderno para esta década e estou a fazê-lo, com o que terá de boas e de más memórias no final destes 10 anos.

      Pensei que eras da minha idade, mas os "entas" tb se aproxima para mim. É uma boa ideia esta do caderno, mas tenho outras que posso partilhar contigo, igualmente interessantes :-)

      Bjs

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    2. eu tenho 39, até fiz um post e dedicaste-me uma música do ed... não sei que idade tens, mas somos da década de 70, o que é bom :)
      aliás, nunca escondi a idade, estou como o francisco, dão-me muitos menos anos, mas eles já cá estão.
      quando chegar aos 70 e as pessoas continuarem a tirar anos, eu talvez diga 50 e 20 :D.

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    3. Ainda estou nos 38. Também não a escondo :p
      E lembro-te perfeitamente da dedicatória, mas fiquei com a ideia (errada) que tb eras de 74.
      Bjs :)

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  4. Os bons e os maus momentos existiram e não se apagam. Podemos sem dúvida relativizá-los e é tudo o que está ao nosso alcance. Seria tão bom se pudéssemos esquecer o que de ruim aconteceu, mantendo apenas na memória as boas experiências. Todavia, também teria o seu lado negativo, uma vez que aprendemos com os erros e com os infortúnios pessoais. Se tocarmos num bule de chá quente, provavelmente queirmar-nos-emos; da próxima vez, com certeza utilizaremos uma pega de cozinha. :)

    A decisão "vai-para-o-saco" parece-me a correcta. :)


    abraço.

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    1. Foi para o saco. Era um papelinho pequeno, e certamente terá um lugar num canto de uma página do caderno.

      Também se costuma dizer que é melhor aprender com os erros e infortúnios dos outros, mas infelizmente a vida não é perfeita e temos que ter os nossos.

      Abraço

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  5. Por vezes gosto de limpar a casa. Deitar fora coisas guardadas há anos! É sabido, que depois de fazer isso, dava-me imenso jeito essas mesmas coisas, mas pronto. Mas faz bem libertar a casa de fantasmas. O passado deve ficar no passado e não agredir o presente. Para salvaguardar o bom, temos as memórias :P Ou seja, nem tudo deve ter o mesmo tratamento :P

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    1. O teu pensamento é assertivo: as memórias não têm todas o mesmo futuro. É um facto, e é certo que o nosso cérebro nos ajuda nessa relativização.
      Abraço

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  6. É bom por vezes termos momentos kodac :)

    Abc

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    1. É bom construir um conjunto de momentos Kodac. Ajuda-nos a sintetizar...
      Abc

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  7. Memórias são memórias, embora tenhamos mais tendência para nos lembramos mais das más do que das boas. Acho que sintetizaste tudo ao dizer 'nem todas as memórias têm o mesmo futuro', isso sim é sabedoria.
    A ideia do caderno é muito gira e o resultado deve ser uma pequena obra de arte, como o são as nossas vidas.
    Abraço.

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    1. É bonito esse pensamento de que a vida é uma pequena obra de arte, mas por vezes os caminhos tortuosos da vida surpreendem-nos na construção do nosso "caderno de viagens", e a pintura fica esborratada...
      Abraço

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  8. Do meu anterior relacionamento, o tal que mencionei tantas vezes quando criei o blog, eu tinha um cofre onde depositava coisas. Desde roupa dele a bilhetes de comboio, mapas de sítios que conhecemos juntos, fotografias, tinha até o primeiro cabelo branco dele! lol
    Aquela relação marcou a minha vida como poucas coisas já me marcaram mas no ano passado decidi que era hora de me libertar dessas recordações, até porque de vez em quando lá ia eu espreitar e reviver tudo aquilo (o que só me fazia mal). Peguei o cofre e nas chaves, fui até ao rio, dei um beijinho e joguei fora juntamente com as chaves. Se nos fazem mal...para que guardar coisas?

    Nestes casos apoio uma boa limpeza!

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    1. Também fiz essa tal limpeza. Era preciso. Mas este caderno é sobre mim, sobre a minha viagem nesta década. Quero que seja real. O tempo ajudará a relativizar as coisas.
      (Mas gostei da forma bonita como te libertaste das tuas memórias. Só revela toda a tua sensibilidade).
      Bjs

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  9. A frase 'nem todas as memórias têm o mesmo futuro' é fantástica, e não podia ser mais verdadeira. Mais importante que fazer limpezas no armário, é faze-las dentro da nossa cabeça. Essa é a limpeza mais difícil, é certo, mas como queres receber uma pessoa nova se ainda tens a casa toda suja?
    Fizeste bem em guardar, a meu ver. Foi uma parte importante da tua vida, no matter what. Mas deixa isso apenas lá naquela página conturbada da tua vida, porque as outras serão decoradas com arco-íris.

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    1. Posso dizer-te que essa limpeza já está quase feita. Temos que saber colocar cada pessoa da nossa vida no lugar que ela merece. Por vezes demora é algum tempo...
      Abc

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