Autor: Bianca (cabra branca)
ABRAÇO
Sentia-se um traste. Deixara de acreditar na felicidade desde que se lembrava.
Um dia, vai ser o seu dia - dizia a recém-chegada Clotilde, mostrando as fotografias do seu neto – vai sim! Vai encontrar o seu ninho, o seu espaço... Enquanto Clotilde dissertava pela vida cheia que levara, agora resumida ao lar e ás fotografias que trazia da família, Antónia de esperança vazia, fazia-lhe a cama de lavado.
Antónia perdera o último afecto, quando levara a enterrar a que se afizera chamar Tia, dada a doçura e paciência da senhora, que aguardava numa espera eterna a chegada da única neta que lá a deixou, com convicção e promessa de voltar. Não voltou.
Tia, se foi só. Despedira-se num azul céu, acompanhada pela única que respirava, Antónia.
No dia da chegada de Tia ao lar, Antónia tinha-se despedido de um outro corpo, uma menina de 98 anos, continuava a ser menina, vivera uma vida abastada, recheada de aventuras, abonada de alegrias, uma quase difícil conjugação entre fartura e ternura. Antónia, de vida oca, conhecera todas as tramas da falecida, a que dava agora cama vazia a Clotilde.
Antónia, largada desde que se conhecia, vivia no lar. As senhoras vinham, chegavam com vidas cheias e ainda pejadas de vida partiam.
Que pensa você Antónia? Está tão pávida, tão calada... continuava Clotilde. Antónia, não mais queria saber de vitalidades gozadas, fotografias e histórias contadas, queria ela do que lhe faltava, não de uma vida alada.
Encarando Clotilde a lágrima lhe caiu. Saiu do quarto desgastada, abandonou a bata pelo chão do corredor que dava à entrada. Abriu a porta e saiu, saiu para a rua. E quem por ela passou esbarrou com tamanha certeza. Antónia entrou na loja, na da Laura florista, adornava ela ramos garbosos que acompanhavam no adeus às suas senhoras de passados fogosos.
Beijou, um beijo profundo com tenros lábios. Laura percebeu, Antónia chegara.
Antónia perdera o último afecto, quando levara a enterrar a que se afizera chamar Tia, dada a doçura e paciência da senhora, que aguardava numa espera eterna a chegada da única neta que lá a deixou, com convicção e promessa de voltar. Não voltou.
Tia, se foi só. Despedira-se num azul céu, acompanhada pela única que respirava, Antónia.
No dia da chegada de Tia ao lar, Antónia tinha-se despedido de um outro corpo, uma menina de 98 anos, continuava a ser menina, vivera uma vida abastada, recheada de aventuras, abonada de alegrias, uma quase difícil conjugação entre fartura e ternura. Antónia, de vida oca, conhecera todas as tramas da falecida, a que dava agora cama vazia a Clotilde.
Antónia, largada desde que se conhecia, vivia no lar. As senhoras vinham, chegavam com vidas cheias e ainda pejadas de vida partiam.
Que pensa você Antónia? Está tão pávida, tão calada... continuava Clotilde. Antónia, não mais queria saber de vitalidades gozadas, fotografias e histórias contadas, queria ela do que lhe faltava, não de uma vida alada.
Encarando Clotilde a lágrima lhe caiu. Saiu do quarto desgastada, abandonou a bata pelo chão do corredor que dava à entrada. Abriu a porta e saiu, saiu para a rua. E quem por ela passou esbarrou com tamanha certeza. Antónia entrou na loja, na da Laura florista, adornava ela ramos garbosos que acompanhavam no adeus às suas senhoras de passados fogosos.
Beijou, um beijo profundo com tenros lábios. Laura percebeu, Antónia chegara.
Histórias de mulheres :)
ResponderEliminarAdorei.
Adorei esta história. Muito.
ResponderEliminarVim ler cada uma das histórias. Sendo histórias diferentes, todas me deram oportunidade de pensar e, por razões diferentes de todas gostei.
ResponderEliminarAqui fica o meu abraço.