2011/11/08



História #11
Autor: Se7e (Umemcadase7e)

TEMPO DE AMOR

Madrugada. O infernal vento não deixava dormir, na cama que comprei há uma dúzia de anos. Perguntava-me ao olhar, se iria morrer nela... Já estava farto da vida. As aulas, a galeria, a minha irmã com cancro, sem ti. Tudo se tornava penoso como infindável e de estupidez incrível.
Agarrei nos chinelos, para suportar melhor o frio e caminhei as escuras até a sala. Com um uísque sentei-me ao pc. Abri uma série de pastas e dei com muita coisa inacabada. Sonhos, rematei dentro de mim. Ao lado, uma dúzia de cartas. Entre tantas dei com uma de letra pequena: “acabei de passar por ti, mas nem deste conta. Tas igual, tirando esses óculos que te dão um ar de pintor demente. Recordei o verão que passamos em Leça. Os teus olhos não mentem sobre o teu estado interior. Consegui a tua morada na galeria donde saias.
Deixo-te o meu mail, abc, Afonso”
Fiquei fulo com a Graça, como podia ela ter dado a minha morada a um sujeito que nem conheço. Em vez de ficar no nada sentado, fui para a cama fazer nada. Em pensamentos e viravoltas de imagens com quem já tive, nunca me apareceu um Afonso. Mas a imagem de alguém que conheci em Leça. Tudo fazia sentido. Fui a correr ao pc, entrei no mail, e carreguei numa pasta, onde encontrei o que desejava, texto escrito em finais desse verão, ainda guardado por sorte:
“Não me pertenço, nem a ti. Se te amo por razões que não conheço... esse gesto com que tiveste para comigo? Entrar para salvar alguém naquelas situações, não foi de herói, mas de amante. Fugi de ti. Porque menti a mim próprio. Não procuro perdão. Mas alguém em quem ache um pouco de sentido”
Fiquei pronto para o enviar. Mas, não o fiz! Acabei por pegar na foto que tinha na mesa. Apertei-a ao peito e sussurrei com amor: não te esqueço!

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