História #05
Autor: Verônico (O Verônico)

ABRAÇO, O ATRITO DA PAIXÃO

Já havia se passado tanto tempo após nosso último encontro, que só o reconheci pelo caloroso e característico olhar que só ele tem. Olhar curioso, mas apaixonante... A minha vontade naquele instante foi de abraçá-lo, beijá-lo e acariciar seus sedosos cabelos dos quais eu tanto senti falta. Mas como havíamos combinado, só iríamos nos cumprimentar com um mero aperto de mão.

Quando, finalmente, nos aproximamos um do outro, eu fiz questão de cumprimentá-lo olhando no fundo daqueles olhos que pareciam me convidar para uma viagem... Uma viagem mais íntima, para um mundo que só havia espaço para nós dois. Recado entendido...

Quando chegamos em sua casa, ele entrou primeiro, mas não acendeu a luz, e sim, as velas. Um aroma doce e sedutor instaurou-se no ar. Com seus braços brancos e fortes, ele abriu a garrafa de vinho e nos serviu. Mas, quando a rolha irrompeu no ar, eu não resisti. Eu não queria vinho, eu queria atrito. Queria provar para a ciência que o atrito de duas paixões é capaz de acender a faísca do amor.

O nosso abraço foi tão forte quanto as batidas dos nossos corações e tão suave como a névoa que envolve a lua. Ele era a névoa, e eu, a lua. Os beijos foram apenas pretexto para tentarmos entrar um dentro do outro, e, unidos pelas nossas bocas, instintivamente, fomos para o quarto onde fizemos amor pela primeira vez. O que o abraço iniciou o amor terminou. E foi tão intenso, tão íntimo que senti o universo todo sentindo inveja de nós.