2012/04/23

História #23
Autor: João e Luís (INDEX ebooks)

CARTAS DE AMOR

Meu querido Afonso,

Por certo estranhaste não ter atendido os teus telefonemas e não ter respondido quando tocaste à minha porta. É verdade, mudei de telefone, mudei de casa e até de país, e só agora arranjei força e coragem para te escrever. Estou no Rio, “cidade maravilhosa, de encantos mil”, mas faz-me lembrar a nossa lua-de-mel em Pemba e dou por mim a chorar por quase nada, uma gaivota que passa a deslizar no céu rubro do poente, o estrondo seco de um coco a despenhar-se na areia. E é por isso que odeio estar aqui. As saudades de ti são uma ferida que não sara e que me dói todos os dias.
Sabes, não me chega existir só para satisfazer os teus prazeres furtivos, os prazeres que me juraste que a tua mulher não te pode dar. E já não acredito nas tuas promessas de divórcio e nas desculpas para não contares a verdade aos teus filhos. Fugi para longe porque ainda te amo muito (como nunca amei ninguém!). Tu és o meu vício, o meu grande vício, o vício em que receio voltar a cair se te aproximares de mim outra vez.
Mas vou sobreviver! Enquanto tiver amor para dar, saberei viver! Sou gay mas, ao contrário de ti, tenho orgulho de ser quem sou! Tenho toda uma vida para viver e não a vou desperdiçar. Mereço ser amado incondicionalmente e quem sabe, talvez casar.

Recebe este último abraço do teu amigo,
Rui

11 comentários:

  1. Adorei a ideia :)
    E muito bem escrito, mais uma vez :)

    ResponderEliminar
  2. Uma realidade pela qual já passei e que não aconselho a ninguém: uma paixão por um homem casado.

    ResponderEliminar
  3. São história únicas mas que se repetem por todo o mundo...
    Espero que o Rui encontre o que procura pois não me parece que o Afonso lhe venha a poder corresponder. Um abraço

    ResponderEliminar
  4. Tenho sérios problemas com quem se apaixona por gente casada. A história muito raramente não tem este fim. As pessoas põem-se a jeito, depois vitimizam-se e isso irrita-me profundamente. O texto fez-me sentir vontade de dizer ao Rui «ninguém te manda ser parvo». Cool :)

    ResponderEliminar
  5. Fixe! Obrigado pelos comentários simpáticos. "Abraço" a todos.

    ResponderEliminar
  6. Já alguem dizia..."cartas de amor, quem não as tem?!?!?"!!!

    Abraço-te

    ResponderEliminar
  7. É um tema algo batido e bastante simples, mas julgo que foi isso mesmo que lhe atribuiu beleza.
    Além do uso excelente da narração e de eu ter gostado que ele tenha tido auto-estima para não aceitar a situação.

    ResponderEliminar
  8. Vim ler cada uma das histórias. Sendo histórias diferentes, todas me deram oportunidade de pensar e, por razões diferentes de todas gostei.
    Aqui fica o meu abraço.

    ResponderEliminar
  9. Ah! já nos esquecíamos ;D
    Temos que agradecer também a André Filho/Aurora Miranda por "Cidade Maravilhosa", a Freddie Perren/Gloria Gaynor por "I will survive" e a Carlos Tê/Rui Veloso pelo lindo "Anel de Rubi", de quem citámos alguns versos...

    ResponderEliminar