Uma das minhas experiências mais interessantes de 2014 foi a iniciação ao Couchsurfing.
Depois de uma roadtrip de verão - e em parte devido aos incentivos dos Dois Coelhos - percebi que seria enriquecedor se, em viagem, fosse conhecendo pessoas que me mostrassem as suas cidades.
Posto isto, decidi iniciar a minha atividade como couchsurfer (começando pelo princípio, o couch), disponibilizando o meu sofá a viajantes. Feito o registo, comecei a receber pedidos, e - com todas as cautelas que estas experiências requerem - nos meses que se seguiram hospedei 1 italiano, 1 espanhol, 2 belgas e 3 franceses. Como a minha casa é muito pequena, estabeleci que só hospedaria uma pessoa de cada vez, apenas rapazes e, preferencialmente, só por 1 ou 2 noites, pelo que tive que declinar mais de 90% dos pedidos recebidos. Mas como não há regra sem exceção, acabei por receber 1 espanhol durante 3 noites e 2 franceses de uma só vez (e um deles era tão giro, que fiquei sem saber o nome do outro). Sim, porque nestas coisas também se pode lavar as vistas (e tanto que haveria por contar de um belga escultural que, durante 2 dias, se passeou lá por casa em tronco nu).
A experiência foi fantástica, acima de tudo pelas pessoas que
conheci e pelas histórias das viagens de cada um. Com aqueles que ficaram por mais do que 1 noite, foi possível ter uma cumplicidade maior e conversas deveras interessantes. A língua nunca foi barreira, até porque alguns falavam português razoalmente bem ou vinham com vontade de aprender (dizem que o português está na moda), e para os restantes bastava o inglês.
Mas se procuramos uma experiência verdadeiramente enriquecedora, temos que receber apaixonadamente: acolher de braços abertos, fazer de cicerone pela cidade, convidar para jantar, sair para beber um copo... E geralmente são pessoas que estão em modo roadtrip mas que vêm à descoberta, pelo que acolhem muito bem todas as nossas sugestões e mudam as suas rotas de viagem para segui-las.
Apesar de cozinhar não ser a minha vocação, há 2 ou 3 coisas simples que fazem um brilharete quando convido amigos, e mais ainda para quem gosta de experimentar pratos regionais, e é raro aquele que não tire a foto da praxe, para o facebook ou para mais tarde recordar :) Aqueles que ficaram por mais do que uma noite também retribuiram cozinhando, e todos me presentearam com algo: o mesmo belga que se passeava em tronco nu fez um delicioso prato vegetariano; o espanhol fez tapas; o italiano trouxe-me pastéis de Salamanca; uns franceses e um belga ofereceram-me cerveja (francesa e belga, naturalmente); um outro fracês trouxe-me uma garrafa de licor para o jantar :)
Acabei por descobri uma mão cheia de europeus, que são uma espécie de "coelhos" que já viajaram por
meio mundo; gente que perdeu a conta ao n.º de países que conhece e que não concebem a ideia de viajar sem ter esta experiência verdadeiramente fascinante. Grande parte das conversas que tive com cada um deles foi sobre Portugal (as minhas sugestões para as suas viagens que continuavam) e sobre os locais que eles já tinham visitado. A par disso vi muitas fotos das suas viagens, no meio de muitas outras partilhas culturais.
Para este novo ano, desejando continuar a receber pessoas da forma seletiva que já aconteceu, espero iniciar a segunda parte do plano: o surfing.
Talvez seja esta uma nova forma de conhecer o Mundo e quem o habita.
Admirável Mundo novo, ao som de This World (Selah Sue)