2012/04/19


História #21
Autor: Arrakis (mélange)

COMO NO CINEMA

Sentado no táxi em direcção ao aeroporto e ainda tudo me parecia mentira. Ouvia o trânsito desfilar lá fora mas aquilo era mais um filme mudo ao som de Bach.
E eu tão calmo, tão tranquilo, quase suspenso. Na minha cabeça corriam mil imagens tuas e mil imagens nossas.
Finalmente tínhamos dado o passo, largámos tudo e íamos fugir. Que ironia, tínhamos que ir para longe para estar perto um do outro.

Com os bilhetes de avião no bolso da camisa junto ao coração aos pulos entrei no hall do aeroporto e olhei em volta à tua procura. Nada, ainda não tinhas chegado.
Puxei as malas para um canto e pus-me a olhar para a entrada.
Fixava as portas automáticas que abriam e fechavam e imaginava ver-te entrar. Afinal de contas, este era o plano de abertura de um filme só nosso e não queria perder aquele início por nada deste mundo.

Entrou um grupo de turistas barulhentos que rapidamente desapareceu.
Olhei para o relógio, a porta fechou-se, voltou-se a abrir num ápice e ali estavas tu.
Entraste em meia contra-luz, com o cabelo a brilhar do sol, qual elegância de Adónis atrapalhado com as malas. Correste para mim, parecia que estavas em slow-motion como nos filmes. Parámos frente a frente e abrimos os braços para um abraço tão forte e apertado que perdemos a noção do tempo.

Foi perfeito como no cinema.

10 comentários:

  1. Por momentos cheguei a pensar que ele não ia comparecer ao aeroporto :)

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  2. Também "embarquei" nessa... achei que o abraço iria ficar "no ar", sem a presença dele. Mas ficou lindo assim...

    Abração.

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  3. Tinha que ser como no cinema :)

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  4. Há de facto momentos, que...são perfeitos!!!

    Abraço-te

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  5. Bom texto, como se esperava de ti, e penso que real.
    Só é pena que não consigas ainda encarar, ou ir encarando, essas vivências nos meios em que te moves, e seja necessário "fugir"...

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  6. Obrigado a todos pelos vossos comentários. :)

    João, a história é pura ficção e a questão da fuga é apesar tudo bastante real pois conheço muitos casais que preferiram ir viver para países mais evoluídos em relação à aceitação social dos gays do que ficarem por cá a sofrer na pele a pressões familiares e sociais.

    Quanto a mim, assumi-me muito novo e nunca precisei de fugir para lado nenhum por causa da minha sexualidade :)
    Abraço.

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  7. A narração está boa e fluída, mas o enredo em si não me despertou muito.
    Como a grande maioria, cheguei a pensar que ele não iria, but well, é sempre bom quando acaba inesperadamente bem.

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  8. Vim ler cada uma das histórias. Sendo histórias diferentes, todas me deram oportunidade de pensar e, por razões diferentes de todas gostei.
    Aqui fica o meu abraço como no cinema.:)

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