História #08
Autor: Alex (a & y)
- Imaginavas diferente?
- Mais fácil, sim. - respondi.
Ele sorriu.
Eu sorri.
Enrosquei-me no cachecol de lã, apertando a chávena de chá contra o meu peito.
- A vida não é linear.
- Que queres dizer com isso?
Que não é previsível? - perguntei fitando-lhe o rosto doirado.
- Que não é programável.
- Acredito pouco em coincidências. - disse, lançando para o horizonte as palavras.
- Continuas um homem de Deus.
Apenas lhe mudaste o nome.
- Todo o homem acredita em qualquer coisa. - proferi, baixando os olhos para as suas mãos ternas.
- Em que acreditas tu?...
Neste mar que nos observa?...
Neste farol que nos segura?...
Nesse chá que te aquece?...
Em mim?... Em ti?... No amor que sentes por mim?...
- Não. - sorri.
Ele sorriu.
Voltámos para dentro, às tarefas de natal.
por vezes, as palavras são supérfluas.
ResponderEliminargosto do mar, mesmo o invernoso, agreste.
Às vezes o que não se diz é mais importante do que se diz.
ResponderEliminarMuito bem. Deixa-nos a refletir sobre a vida...
ResponderEliminarMuitas vezes não é preciso dizer para dizer.
ResponderEliminarTambém gosto muito do mar no inverno e adoro faróis :)
Abraço
:) Como escrever com palavras o que existe entre as palavras? É o meu dilema. Esta foi uma tentiva muito tímida e, ainda, pouco certeira. I'll keep trying.
ResponderEliminarDe facto, linear apenas é a nossa vida biológica...
ResponderEliminarFazendo um paralelo com, não pude deixar de notar, o elemento que é comum, nas palavras que enuncias- chá, farol, mar- a água. E os seus vários estados de oscilação. Ora purifica, ora destrói.
Estará o mar a observar que nem águia, esperando pelo ataque?
Será o farol aquela ponta de esperança, a fé que teima em não se apagar do peito?
E o chá... algo de pessoal, o porto seguro, confortante, íntimo...
E o amor, enfim, como barco que oscila nesse mar de sorrisos...
E a psicanálise barata fica-se por aqui =P
Hum, sinto-me tão jovem para acreditar que a vida 'não é programável'.
But I do.
Top5 - Tão quotidiano. Senti-me quentinho como no meio de uma coberta de lã.
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