2012/12/31


História #32
Autor: K. (Ser outro que não eu)

Os chocolates que recebi pelo Natal fazem uma montanha na secretária e não sei por quanto tempo mais conseguirei resistir. Já tinha ultrapassado a síndrome de abstinência e os familiares, sem que se apercebessem, voltaram a aguçar-me o desejo. E é difícil controlar-me, mesmo pensando que o devo fazer para bem do meu pâncreas. Às vezes penso que mais valia ser obeso ou diabético e não poder comer chocolates. Mais valia não gostar de ti. Assim não sentiria um vazio por já não te ter.
Devia ter dado ouvidos ao Fernando Pessoa e aprendido a refrear os meus sentimentos. Devia ter dados ouvidos à minha mãe e não ser guloso. Mas mesmo ouvindo sou surdo e converti toda a tristeza – oh, e ela era [e ainda é…] tanta! – que se apossou de mim quando acabámos numa necessidade de comer chocolate. Não me sabia tão dependente de ti porque assim que me cativaste reformulei inconscientemente conceitos como “amor” e “nós”. Nós eramos um, uma unidade plural, indissociável e não havia outra forma possível de existirmos! Mas afinal tu podias existir com outro e eu com chocolate. Pelo menos durante uns tempos – tal como tu te fartaste de mim também eu acabei por me fartar de chocolates. (nunca de ti…)
Vou comer mon cheri. Nunca gostei mas pode ser que me embebede e que depois da ressaca perca toda a vontade de comer os restantes chocolates. E que esqueça que gosto de ti. Há quem desenvolva resistência à insulina. Eu hei-de resistir-te.

5 comentários:

  1. sim, um remate perfeito. por aqui, acabaram-se os chocolates.
    eheheh (pois sim, não consigo resistir a um negro com chili da hussel, argh!)

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  2. Um conto amargo e doce para rematar este Pixel que nos encheu a barriga de belas histórias. =)
    Parabéns K.

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  3. O melhor é resistir-lhes (a ele e aos chocolates). É o que tenho feito ultimamente, e com sucesso.
    Foi um fim doce (e eu consegui mesmo sentir o cheiro do mon cheri), talvez inspirado por um pedaço de bolo de chocolate :)
    Abraço

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  4. (Para mim, comer-se só um mon chéri não é possível. Com estes, só o excesso me leva ao prazer, devido ao licor.)

    Isto soa-me a um daqueles sonhos que se confundem com ilusões - ou vice-versa, em que alguém nos descobre os desejos, e os convoca por nós. Até parece que os meus neurónios te encomendaram, sorrateiramente, o texto, K.

    =)

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