Autor: o filho
O MEU PAI
Nunca tive grande ligação com o meu pai. Vivíamos numa aldeia do
interior, e ele passava a semana em Lisboa a trabalhar, vendo-o apenas
ao fim de semana. Por isso, o seu falecimento repentino, há uns 15 anos,
precisamente num desses fins de semanas em que estava connosco, não foi particularmente doloroso.
Duas semanas depois apareceu lá em casa um homem à sua procura. A minha
mãe tinha saído, e fui eu que o recebi. Quando lhe disse que o meu pai tinha falecido de enfarte, ficou muito abatido. Perguntou se podia
conversar um pouco comigo. Na sala, enquanto bebíamos um chá, disse-me
que o meu pai era um homem muito especial, e gostava muito de mim. Respondi
que não tínhamos uma relação muito próxima. Então ele disse “Chamo-me António, tenho mulher e uma filha da tua idade. Durante os últimos 15
anos vivi com o teu pai em Lisboa. Não morei apenas com ele, vivi com
ele e digo-te que ele foi a pessoa mais fantástica que conheci na minha
vida. Apesar dele gostar da sua família, tal como eu gosto da minha, encontrámos um lugar nos nossos corações para um amor muito especial,
fraterno e profundo, como nunca tinha sentido. Ao longo deste tempo, à distância, assisti ao teu crescimento, à tua entrada na escola, à tua
ida para a universidade… de certa forma, eras também meu filho.”
Ficámos a falar durante toda a tarde. Não queria acreditar. Na verdade, só conheci o meu pai depois dele morrer.
parece-se com um romance de guilherme de melo, 'o que houver de morrer'.
ResponderEliminarbem escrito.
Sim, tem semelhanças, Margarida.
ResponderEliminarMas também me veio à memória a cena do "Brokeback Mountain" em que o Ennis visita os pais do Jack, após saber da sua morte - sei que não há semelhanças, mas veio-me ao pensamento...
wowww Grande história! :)
ResponderEliminarLevantaste uma questão bastante pertinente - até que ponto realmente conhecemos as pessoas que supostamente serão mais próximas de nós?
ResponderEliminarDeixaste-me a pensar...até porque, tal como o rapaz da tua história, verdadeira ou ficção, é alguém com quem me identifico, pelo menos em parte...nunca tive grande relação com o meu pai, nunca vivemos juntos, nunca foi meu companheiro de brincadeiras, só ocasionalmente...
Pergunto-me como reagiriá ele no dia em que lhe abrir o meu coração... ;)
Abraço e parabéns pelo conto! ^^
Tenho o privilégio de ler os textos todos em primeira mão e este foi sem dúvida um dos que mais me prendeu logo no e-mail. É um assunto interessante e que merecia uma abordagem mais longa. Se é verídica e é a tua história, admiro a coragem de a contares aqui.
ResponderEliminarAbraço
Este desafio está a ficar deveras difícil de escolher a melhor história...
ResponderEliminarA cada dia que passa, cada história tão boa ou melhor que a anterior...
Gostei mesmo muito desta
Parabéns
I relate my self with this story a lot as my relation ship with my dad is not the best...not to say he is a complete stranger to me...
ResponderEliminaramazing story I loved it...
Interessante...
ResponderEliminarA história prendeu-me do principio ao fim, tem algo de trágico e belo ao mesmo tempo.
ResponderEliminarUma história interessante! E que eu adorei! Um assunto, como diz o Sad eyes, para abordar certamente!
ResponderEliminarC.
Quando é que sai a sequela?
ResponderEliminarAdorei cada frase, cada palavra...
Beijinhos fofinhos e natalicios.
Parece verídico e é muito triste... triste que um pai não consiga dizer ao filho que o ama... triste que um filho muito amado não saiba desse amor e não possa retribui-lo...
ResponderEliminarGostei muito... só não percebi a ligação ao tema do concurso mas está realmente muito bonito.
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