Autor: Namorado (Namoro com um pop star)
DEUS
O João estava sozinho no mundo. O Filipe sozinho estava. Eram duas almas alheadas, que não queriam sofrer mais. O João tinha sido abandonado pela família aos cinco anos de idade, pelo que nunca soube o que eram ligações. O Filipe, desde que descobriu ser HIV positivo, deixou-se isolar por tudo e por todos.
Naquela noite, curiosamente, talvez empurrados pelo destino, saíram de casa. Vagueavam pelo Chiado ancestral, sem rumo, nem objectivos de maior. Ao longe, ouviram música. Afinações suaves, coordenadas, que os puxavam sem resistência.
O João subiu os degraus de calcário gasto, entrou e sentou-se. Ficou a admirar a talha dourada, abstraindo-se de tudo o resto, até porque não nunca foi católico. Porque quem passou, o que ele passou, nunca poderia acreditar em Deus.
Minutos depois, apareceu o Filipe. Ficou precisamente do lado oposto. Deixou-se permear pelo calor da Missa do Galo e recordou quando era praticante e acreditava. Mas desde que soube o que a vida lhe reservou, que não podia voltar a acreditar em Deus.
Bastaram segundos, para que se sentissem. Para que fundissem olhares. Para que no fim da cerimónia, saíssem calados, e, como rato e gato, tentassem perceber o que os unia e impelia. Até que, por baixo de uma sacada, pararam. E sem pensar na reacção alheia, beijaram-se. Primeiro a medo. Depois prolongadamente. Até que, Filipe quebrou a mudez e disse: “Não sabes nada sobre mim”. Pelo que o João apenas lhe retorquiu: “Espero que me dês a oportunidade de emendar esse erro”.
O João subiu os degraus de calcário gasto, entrou e sentou-se. Ficou a admirar a talha dourada, abstraindo-se de tudo o resto, até porque não nunca foi católico. Porque quem passou, o que ele passou, nunca poderia acreditar em Deus.
Minutos depois, apareceu o Filipe. Ficou precisamente do lado oposto. Deixou-se permear pelo calor da Missa do Galo e recordou quando era praticante e acreditava. Mas desde que soube o que a vida lhe reservou, que não podia voltar a acreditar em Deus.
Bastaram segundos, para que se sentissem. Para que fundissem olhares. Para que no fim da cerimónia, saíssem calados, e, como rato e gato, tentassem perceber o que os unia e impelia. Até que, por baixo de uma sacada, pararam. E sem pensar na reacção alheia, beijaram-se. Primeiro a medo. Depois prolongadamente. Até que, Filipe quebrou a mudez e disse: “Não sabes nada sobre mim”. Pelo que o João apenas lhe retorquiu: “Espero que me dês a oportunidade de emendar esse erro”.
Foste uma das agradáveis surpresas deste Pixel :)
ResponderEliminarabc
Achei imensa piada a este desafio e quis muito participar! Não sou escritor profissional, nem quero ganhar nenhum prémio lolol mas gostei da tua ideia e quis participar! Neste caso, duas vezes! E o trabalho que me deu as 250 palavras lololololololol
ResponderEliminarAbraço e mais uma vez parabéns pela iniciativa! Muito boa ideia!
Wow! O último diálogo está simplesmente divinal!
ResponderEliminarParabéns! :)
Gosto das aparentes contradições que o texto coloca. Agora fiquei na dúvida, se gosto mais deste teu conto, ou do anterior =)
ResponderEliminarPois... eu também :s LOL
EliminarMuito curiosa a situação de que tudo começa numa igreja; parece ser um pequeno milagre de Natal.
ResponderEliminarE uma pequena provocação ao catolicismo :)
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