Autor: Miguel (um voo cego a nada)
SOMETHING STUPID
Detesto canções de
Natal. Chega novembro, e os centros comerciais são ocupados por
alienígenas bárbaros sob a forma de eternas versões dos mesmos cânticos
de sempre. A parte boa é que ao fim de uns dias o nosso cérebro
habitua-se à tortura (não há nada a que o ser humano não se habitue) e
como que deixamos de as ouvir. Em momentos de especial fraqueza podemos
até ser desagradavelmente surpreendidos a cantarolar em surdina uma
dessas atrocidades.
Este Natal decidi adoptar como canção oficial uma
que não tem nada a ver com a estação mas muito a ver comigo. Tudo
parecia bem encaminhado e o calendário do Natal abria as suas
janelinhas, uma a uma, para mostrar promessas de uma noite feliz:
concertos da madonna, copos até às tantas com os amigos, botões de punho
discretos e charmosos, noites a dançar até de manhã, perfumes italianos
com anúncios a preto-e-branco, malhas macias de cores suaves e
sobretudos charcoal, fins de semana em Madrid, alianças com o padrão
grego feitas de encomenda.
Só faltava abrir uma janelinha do calendário, a
última, e tudo apontava para uma consoada aconchegada, a dois, com
rabanadas e vinho quente. Estava a correr tão bem. O momento parecia o
adequado. O teu perfume entontecia-me, a estrela do Natal iluminava o
azul profundo da noite.
Foi então que eu estraguei tudo, quando te disse qualquer coisa um bocado estúpida, tipo: “eu amo-te”.
(Frank & Nancy Sinatra - Something stupid)
Um registo diferente do Miguel, mas que, apesar disso tem a sua marca inconfundível.
ResponderEliminarNão é um paradoxo, é mesmo isso, mas não sou capaz de explicar a aparente incongruência do que afirmo.
Talvez porque conheça muito bem o Miguel e o seu estilo.
those silly, silly words, livremo-nos nós de as pronunciar :)
ResponderEliminarsim, é muito miguel, se consigo fazer-me entender. muito bom, claro.
E quantas histórias já terminaram com um "amo-te"? Muitas.
ResponderEliminarHá pessoas que têm medo de ser amadas...
ResponderEliminar...e não entendo.
EliminarSe o sentimento está presente, explicitamente, porque temos de ocultar a parte verbal do amor...?
Também gosto de rabanadas, de vinho quente e deste texto :)
"Detesto canções de Natal. Chega novembro, e os centros comerciais são ocupados por alienígenas bárbaros"... eheheh! me too!
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